São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Múlti brasileira

Sucesso da Vale do Rio Doce, segunda maior mineradora do mundo, se deve a privatização e decisões estratégicas

A AQUISIÇÃO da mineradora canadense Inco pela Vale do Rio Doce estabelece um novo patamar nas estratégias de internacionalização das empresas brasileiras com capacidade de tornar-se protagonistas globais. Com um desembolso em dinheiro que pode chegar à casa dos US$ 18 bilhões, a Vale, num lance arrojado, ampliou o seu horizonte empresarial.
Esse negócio bilionário não apenas propiciou à empresa brasileira transitar da quarta para a segunda posição no ranking das maiores mineradoras do mundo em valor de mercado (agora só fica atrás da BHP-Billiton, da Austrália). A Vale, além de desconcentrar-se regionalmente, entra com força na cadeia do níquel. Incorporada a Inco, a multinacional do Brasil se torna a maior produtora global desse minério -condição que já ostenta no mercado de minério de ferro.
Especialistas projetam "céu de brigadeiro" para o preço internacional do níquel. A Vale se posiciona num mercado cuja demanda promete ser crescente conforme o padrão de desenvolvimento da China (a grande responsável pelo regime de alta das "commodities" metálicas) transite para um nível mais sofisticado. O níquel compõe a liga do aço inoxidável, bastante presente em produtos de maior valor unitário, como geladeiras e automóveis.
A Vale é caso notável de sucesso do programa de privatizações. É também exemplo de sucesso de gestão empresarial e visão estratégica, o que foi fundamental para que o destino da empresa se desviasse do de "presa" rumo ao de "predadora" global.
Adquirida em 1997 por um consórcio formado majoritariamente por empresas e fundos de pensão nacionais, a companhia demorou algum tempo para desvencilhar-se de um entrave entre seus controladores -basicamente uma participação cruzada entre os principais acionistas na Vale e na CSN. Um empréstimo do BNDES solucionou a questão e separou o controle das duas empresas três anos depois da privatização da mineradora.
Em meio a um ambiente internacional particularmente avesso à mineração -a crise asiática, no final da década passada, havia desvalorizado fortemente o preço das "commodities" metálicas-, a Vale sobreviveu ao primeiro ciclo de fusões e aquisições no setor em escala global.
Esse e outros ajustes permitiram que a Vale aproveitasse com bastante intensidade o ciclo de crescimento mundial que se seguiu, a partir de 2003. Fundado na vigorosa expansão chinesa e na retomada da economia norte-americana, esse ciclo ainda perdura, embora em ritmo mais moderado. A mineradora lucrou mais de R$ 10 bilhões em 2005.
Agora a Vale dá seu passo decisivo rumo à internacionalização. É um caso que dá a pensar: quantas empresas desse porte e com esse apetite o Brasil poderia ter gerado caso suas taxas de crescimento não tivessem caído abruptamente há 25 anos?


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