São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Amazônia em alta

SOB O PRETEXTO de que necessitava dos dados para a 12ª Conferência das Partes (COP-12) da Convenção-Quadro sobre Mudança Climática da ONU, que começa dia 6 no Quênia, o governo federal anunciou -três dias antes do segundo turno- uma nova diminuição na taxa anual de desmatamento na Amazônia. A oportunidade eleitoral do anúncio não retira mérito da façanha, até por se tratar da segunda queda consecutiva, ambas na faixa de 30%. Cabem algumas qualificações, no entanto.
Em primeiro lugar, trata-se apenas de uma estimativa. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, encarregado do monitoramento, empregou na análise só 34 das 220 imagens necessárias para cobrir toda a Amazônia brasileira. A amostra abarca, ainda assim, áreas do chamado Arco do Desflorestamento que concentraram 2/3 da derrubada no ano anterior. Com a margem de erro inflada a 10%, manda a prudência aguardar a cifra confirmada, prevista para dezembro.
Depois, não é o caso de festejar, propriamente, a destruição de 13.100 km2 de florestas. É uma superfície maior que a da Jamaica. Algo como 0,8 bilhão de árvores pode perecer numa devastação dessa magnitude. E engana-se quem presumir que terão sido sacrificadas para uso produtivo da terra -no mais das vezes, poucas cabeças de gado ocuparão a área derrubada (ainda que venha crescendo a parcela da floresta diretamente convertida para agricultura intensiva).
Por fim, persiste a dúvida sobre o elemento determinante na redução das taxas. O Ministério do Meio Ambiente atribui tudo ao endurecimento da fiscalização e às novas unidades de conservação. Alguns ambientalistas, por outro lado, ponderam que ainda é cedo para aquilatar a contribuição da crise do agronegócio. Ainda que suscite satisfação momentânea, o grande teste virá quando os produtores agrícolas conseguirem levantar de novo a cabeça.


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