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VALDO CRUZ
Petistas ao mar
A FORA UMA catástrofe, Lula
conquista um segundo
mandato amanhã. Contrariando prognósticos de muitos, pode reeleger-se num cenário muito
mais favorável. Algo inimaginável
para quem entrou numa campanha eleitoral com a bandeira da ética em frangalhos, completamente
pulverizada depois do dossiegate.
Lula terá apoio ou simpatia da
maioria dos governadores. Pode
ter a seu lado 20 deles. Dos poucos
da oposição, nenhum deve trabalhar contra o petista frontalmente.
José Serra será a voz mais importante dos oposicionistas, mas já
confidenciou a amigos que não
apóia a tese do impeachment.
Entre os defensores do terceiro
turno -a tentativa de tomar o
mandato de Lula pela via judicial-
nenhum se saiu bem na eleição. O
tucano Tasso Jereissati perdeu no
Ceará. O PFL de Bornhausen e
ACM pode ser, dos grandes partidos, o principal derrotado. Terá, de
fato, apenas um governador: do
Distrito Federal, com importância
política próximo de zero. Bornhausen fica sem mandato em 2007.
ACM foi atropelado na Bahia.
O trunfo pefelista era a bancada
no Senado. Se Alckmin ganhasse,
teria a presidência da Casa, mas, se
Lula vencer, esse sonho vira pó
com a perda de alguns senadores.
Então Lula viverá tempos de paz
e tranqüilidade? Não. Primeiro,
ainda paira no ar o "fato imponderável": a possibilidade de a PF descobrir alguém muito próximo do
presidente na origem do dinheiro.
Depois, Lula terá de mostrar
uma habilidade inexistente no primeiro mandato -conseguir montar uma base parlamentar confiável. Para isso, terá de transformar o
velho PMDB em seu principal parceiro -no governo e no Congresso.
Significa jogar petistas ao mar
para abrir espaços aos famintos
peemedebistas. Não há outro caminho. O perigo é substituir os escândalos petistas pelos dos peemedebistas, mas isso é outra história.
A dúvida é se, no eventual segundo mandato, Lula deixará os amigos ao relento para montar um governo menos petista.
Auxiliares próximos do presidente garantem que sim. Confidenciam que Lula está consciente
de que terá de abandonar alguns
velhos companheiros, principalmente o grupo paulista, que protagonizou um escândalo após outro.
A tese é defendida pelos petistas
vitoriosos nessa eleição. Apostam
que o segundo mandato poderá ser
melhor com Lula livre daqueles
que chamuscaram sua imagem
com mensalões e dossiês.
Será uma guerra interna: a da
"despaulistização" do PT. Levada a
cabo, Lula perderá a velha desculpa
de que os amigos o traíram. Poderá
ter novos protagonistas de desatinos, mas que não venha com o velho bordão "eu não sabia". O mínimo que se espera é ter aprendido a
ficar com os olhos mais abertos.
VALDO CRUZ é diretor-executivo da Sucursal de
Brasília.
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