São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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VALDO CRUZ

Petistas ao mar

A FORA UMA catástrofe, Lula conquista um segundo mandato amanhã. Contrariando prognósticos de muitos, pode reeleger-se num cenário muito mais favorável. Algo inimaginável para quem entrou numa campanha eleitoral com a bandeira da ética em frangalhos, completamente pulverizada depois do dossiegate.
Lula terá apoio ou simpatia da maioria dos governadores. Pode ter a seu lado 20 deles. Dos poucos da oposição, nenhum deve trabalhar contra o petista frontalmente. José Serra será a voz mais importante dos oposicionistas, mas já confidenciou a amigos que não apóia a tese do impeachment.
Entre os defensores do terceiro turno -a tentativa de tomar o mandato de Lula pela via judicial- nenhum se saiu bem na eleição. O tucano Tasso Jereissati perdeu no Ceará. O PFL de Bornhausen e ACM pode ser, dos grandes partidos, o principal derrotado. Terá, de fato, apenas um governador: do Distrito Federal, com importância política próximo de zero. Bornhausen fica sem mandato em 2007. ACM foi atropelado na Bahia.
O trunfo pefelista era a bancada no Senado. Se Alckmin ganhasse, teria a presidência da Casa, mas, se Lula vencer, esse sonho vira pó com a perda de alguns senadores.
Então Lula viverá tempos de paz e tranqüilidade? Não. Primeiro, ainda paira no ar o "fato imponderável": a possibilidade de a PF descobrir alguém muito próximo do presidente na origem do dinheiro.
Depois, Lula terá de mostrar uma habilidade inexistente no primeiro mandato -conseguir montar uma base parlamentar confiável. Para isso, terá de transformar o velho PMDB em seu principal parceiro -no governo e no Congresso. Significa jogar petistas ao mar para abrir espaços aos famintos peemedebistas. Não há outro caminho. O perigo é substituir os escândalos petistas pelos dos peemedebistas, mas isso é outra história.
A dúvida é se, no eventual segundo mandato, Lula deixará os amigos ao relento para montar um governo menos petista. Auxiliares próximos do presidente garantem que sim. Confidenciam que Lula está consciente de que terá de abandonar alguns velhos companheiros, principalmente o grupo paulista, que protagonizou um escândalo após outro.
A tese é defendida pelos petistas vitoriosos nessa eleição. Apostam que o segundo mandato poderá ser melhor com Lula livre daqueles que chamuscaram sua imagem com mensalões e dossiês.
Será uma guerra interna: a da "despaulistização" do PT. Levada a cabo, Lula perderá a velha desculpa de que os amigos o traíram. Poderá ter novos protagonistas de desatinos, mas que não venha com o velho bordão "eu não sabia". O mínimo que se espera é ter aprendido a ficar com os olhos mais abertos.


VALDO CRUZ é diretor-executivo da Sucursal de Brasília.

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