São Paulo, quarta-feira, 28 de outubro de 2009

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Ministro do varejo

Preocupação eleitoral do presidente Lula motiva tendência de Mantega a prorrogar redução do IPI sobre eletrodomésticos

O POPULISMO cambial marcou o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso com a manutenção artificiosa do real valorizado para reforçar suas chances de reeleição em 1998. Já o segundo período de Lula resvala para um populismo varejista, não menos abusado na tentativa de vitaminar a candidatura palaciana à Presidência com doses extemporâneas de estímulo ao consumo.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece tomado de paixão pelo comércio. Seria a única explicação plausível para a tendência do governo a prorrogar -pela segunda vez, e quiçá indefinidamente- a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de eletrodomésticos. A medida anticrise, que se mostrou acertada e eficaz no momento do pânico, vence dentro de três dias.
Mantega acena com nova extensão do corte de IPI para a linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar). A condição seria o setor assumir dois compromissos: criar e manter empregos e organizar liquidações para repassar descontos ao consumidor. Além de desnecessária, a prorrogação seria agora inepta.
Desnecessária, antes de mais nada, porque o pior da crise ficou no passado e a retomada do varejo alcançou patamar autossustentável. A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos projetava vender 8 milhões de unidades da linha branca após a redução do IPI. Comercializou 10 milhões.
O crédito pessoal, que em boa parte se destina à aquisição desses bens, retornou ao nível anterior à crise. Deve aquecer-se ainda mais com a aproximação das compras de fim de ano. Não serão as promoções arquitetadas por marqueteiros do Planalto que encherão as lojas, porque elas já estão cheias.
Grassa o otimismo entre empresários. O nível de confiança apurado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em pesquisa com 1.418 empresas alcançou 65,9 pontos, mero 0,3 ponto abaixo do recorde de janeiro de 2005 (escores acima de 50 indicam otimismo, e abaixo disso, pessimismo).
Não se atina, ademais, com a razão para privilegiar um setor particular da indústria. Se é para criar empregos, em lugar de subsídios para segmentos escolhidos a dedo (sabe-se lá por qual método ou lobby), o governo deveria lançar mão de políticas universais, que incentivem toda a economia. O melhor instrumento seria desonerar a folha de pagamento de todas as empresas, eliminando o mais poderoso desincentivo para a contratação de mão de obra.
Mexer com a carga tributária, contudo, é algo que o governo federal só cogita fazer se for para elevá-la. Caso contrário, teria de cortar suas galopantes despesas de custeio, o que vai contra a natureza de uma administração -mais uma- que não hesita em sacrificar a austeridade fiscal por um punhado de votos.


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