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Ministro do varejo
Preocupação eleitoral do
presidente Lula motiva
tendência de Mantega a
prorrogar redução do IPI
sobre eletrodomésticos
O POPULISMO cambial
marcou o primeiro
mandato de Fernando
Henrique Cardoso
com a manutenção artificiosa do
real valorizado para reforçar
suas chances de reeleição em
1998. Já o segundo período de
Lula resvala para um populismo
varejista, não menos abusado na
tentativa de vitaminar a candidatura palaciana à Presidência
com doses extemporâneas de estímulo ao consumo.
O ministro da Fazenda, Guido
Mantega, parece tomado de paixão pelo comércio. Seria a única
explicação plausível para a tendência do governo a prorrogar
-pela segunda vez, e quiçá indefinidamente- a redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) de eletrodomésticos.
A medida anticrise, que se mostrou acertada e eficaz no momento do pânico, vence dentro
de três dias.
Mantega acena com nova extensão do corte de IPI para a linha branca (geladeiras, fogões e
máquinas de lavar). A condição
seria o setor assumir dois compromissos: criar e manter empregos e organizar liquidações
para repassar descontos ao consumidor. Além de desnecessária,
a prorrogação seria agora inepta.
Desnecessária, antes de mais
nada, porque o pior da crise ficou
no passado e a retomada do varejo alcançou patamar autossustentável. A Associação Nacional
de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos projetava vender
8 milhões de unidades da linha
branca após a redução do IPI.
Comercializou 10 milhões.
O crédito pessoal, que em boa
parte se destina à aquisição desses bens, retornou ao nível anterior à crise. Deve aquecer-se ainda mais com a aproximação das
compras de fim de ano. Não serão as promoções arquitetadas
por marqueteiros do Planalto
que encherão as lojas, porque
elas já estão cheias.
Grassa o otimismo entre empresários. O nível de confiança
apurado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em
pesquisa com 1.418 empresas alcançou 65,9 pontos, mero 0,3
ponto abaixo do recorde de janeiro de 2005 (escores acima de
50 indicam otimismo, e abaixo
disso, pessimismo).
Não se atina, ademais, com a
razão para privilegiar um setor
particular da indústria. Se é para
criar empregos, em lugar de subsídios para segmentos escolhidos a dedo (sabe-se lá por qual
método ou lobby), o governo deveria lançar mão de políticas universais, que incentivem toda a
economia. O melhor instrumento seria desonerar a folha de pagamento de todas as empresas,
eliminando o mais poderoso desincentivo para a contratação de
mão de obra.
Mexer com a carga tributária,
contudo, é algo que o governo federal só cogita fazer se for para
elevá-la. Caso contrário, teria de
cortar suas galopantes despesas
de custeio, o que vai contra a natureza de uma administração
-mais uma- que não hesita em
sacrificar a austeridade fiscal por
um punhado de votos.
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