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Na reta final
Campanha eleitoral chega ao fim deixando a sensação de que candidatos preferiram a encenação democrática ao debate de ideias e propostas
Encerra-se amanhã o horário
eleitoral gratuito, reiniciado na
campanha de segundo turno em 8
de outubro. Também amanhã à
noite acontecerá o último debate
televisivo reunindo os dois presidenciáveis. A petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra se enfrentarão ao vivo pela quarta vez
em quatro semanas, desta feita na
Rede Globo.
Não se pode dizer que tenham
faltado oportunidades para que os
candidatos apresentassem suas
propostas ao país. A carga de exposição dos dois em campanha,
no entanto, resultou, em muitos
aspectos, numa experiência mais
exaustiva do que esclarecedora.
Há que se destacar, quanto a isso, a saturação das fórmulas adotadas nos debates televisivos. Engessados por regras e interdições
que as coordenações das campanhas impõem às emissoras, os encontros acabam por preservar os
candidatos de um escrutínio mais
franco e revelador.
A vacuidade de propostas -o
tucano não apresentou programa
de governo e a petista divulgou na
última hora apenas uma lista de
diretrizes- é preenchida por ataques e subterfúgios que aumentam a animosidade entre militantes, mas diminuem a inteligência
da discussão. As conveniências
dos postulantes prevalecem sobre
os interesses do eleitor.
Para evitar a sensação de que,
mais e mais, os períodos eleitorais
se consomem numa mera encenação democrática, seria preciso,
entre outras coisas, emancipar o
jornalismo de sua presença quase
decorativa nos debates. É inconcebível que jornalistas não tenham sequer direito a réplicas às
respostas a perguntas (em geral,
só uma) por eles formuladas.
Mas não se trata apenas disso.
Cada campanha tem suas características, seus assuntos, suas surpresas próprias. É incontornável a
sensação de que, nesta que agora
vai chegando ao final, boa parte
do tempo do eleitor foi desperdiçada com discussões supérfluas,
postiças ou inconclusivas.
Pouco ou nada se explicitou,
por exemplo, sobre o que pretendem fazer Dilma e Serra a respeito
das políticas econômicas. Omitem-se as propostas para a área
cambial (referente à relação do
real com as moedas estrangeiras),
fiscal (de administração das receitas e dos gastos públicos), e monetária (de controle dos juros e da inflação). O grande tema, durante
dias, foi o aborto. Sem dúvida assunto relevante, mas enfrentado
de maneira oportunista ou ardilosa pelos dois candidatos.
O jogo da sucessão, a essa altura, parece definido. Conforme a
última pesquisa Datafolha, o quadro está estabilizado há mais de
uma semana: Dilma tem 56% dos
votos válidos, contra 44% de Serra. Considerando-se os votos totais, há, ainda, 8% de eleitores indecisos, além de 5% que pretendem anular ou votar em branco.
Tanto a audiência da emissora
como a proximidade da votação
redobram as expectativas em relação ao debate de amanhã. Será a
derradeira oportunidade oferecida aos eleitores para dirimir dúvidas e comparar os dois candidatos. É pouco provável no entanto
que alguma mudança brusca no
cenário possa reverter em apenas
três dias o favoritismo da postulante petista.
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