São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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Editoriais

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Educação fatiada

Pressionada pela legislação federal que estabelece a obrigatoriedade de vagas em escolas para todas as crianças com mais de quatro anos, a Prefeitura de São Paulo decidiu abandonar a prioridade até recentemente concedida à expansão das creches -que atendem a faixa de até três anos. Promete agora centrar esforços na abertura de matrículas na pré-escola, voltada para as crianças que têm quatro e cinco anos de idade.
Chama a atenção o fato de que a prefeitura paulistana, em suas iniciativas para ampliar os serviços de atendimento à primeira infância, tenha que escolher entre um nível e outro. Antes, o aumento de vagas nas creches, que constituem oficialmente o primeiro ciclo da educação infantil, vinha sendo feito em prejuízo da ampliação da oferta na etapa seguinte, a pré-escola. Agora será o contrário.
Entre setembro de 2008, quando o prefeito Gilberto Kassab (DEM) concorria à reeleição, e o início do mês passado, as matrículas em creches cresceram mais de 20% na cidade. No mesmo período, houve queda de quase 10% nas vagas da pré-escola.
Diante da necessidade de começar a se adequar à lei (que dá prazo até 2016 para que todas as crianças acima de quatro anos estejam na escola) a prefeitura começará por corrigir uma distorção e criar outras. Vai transferir para creches crianças de três anos que estão, erradamente, na pré-escola. Por isso, a oferta de creche para bebês com menos de um ano cairá -embora o poder municipal diga que o efeito será passageiro.
Essa complexa e injusta engenharia de vagas é mais uma das facetas das precariedades educacionais do país -neste caso, em sua cidade mais rica e populosa.
O primeiro ciclo escolar é decisivo para corrigir deficiências cognitivas, associadas a fatores socioeconômicos, e diminuir, mais tarde, a desigualdade de desempenho nos estudos e no trabalho.
Oferecer apenas uma parte dessa formação é uma falha que contribuirá para um futuro pior.


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