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ELIANE CANTANHÊDE
As bandeiradas de 2005
BRASÍLIA - Por volta de 21h30 de quinta-feira, três policiais prestavam
depoimento na 2ª DP da Asa Norte,
em Brasília. Um quebrou a perna, o
outro, um dedo da mão direita, e o
terceiro estava com o braço enfaixado e o lado esquerdo do rosto roxo.
Levou uma "bandeirada" do MST.
A quinta-feira foi realmente bem
animada em Brasília. Estudantes e
sindicalistas ameaçaram invadir o
Congresso, quebrando um vidro da
fachada da Câmara, e os sem-terra
invadiram de fato o Incra. Todos gritando contra o governo Lula e entrando em confronto com a polícia.
Nas democracias, é natural haver
manifestações, estudantes berrando
contra governos e sindicalistas exigindo direitos. Em países desiguais
como o Brasil, é até salutar que desdentados se aglomerem nas portas
dos palácios clamando por terra e
justiça. A questão é que há uma confluência de reivindicações e fatores
que pode repetir muitas vezes um clima como o da quinta-feira.
Há muita ansiedade em movimentos tradicionalmente aliados ao PT
de Lula e em diferentes setores do serviço público. A preocupação da inteligência do governo é especialmente
com três áreas: paralisação de polícias em áreas urbanas já conflagradas, invasões do MST país afora e
uma greve nacional de caminhoneiros com sérias conseqüências -afetar o abastecimento de combustível,
por exemplo.
Não escapa aos estrategistas do governo o fato de os movimentos sociais
estarem concentrando a grita contra
o Planalto e a política econômica, relegando a um segundo plano suas
reivindicações específicas. Essa tendência contribui para fortalecer a
união entre diferentes setores e manifestantes -do MST aos estudantes.
O fato é que os movimentos sociais
estão despertando e que a panela de
pressão está a todo vapor. Não há nenhuma teoria conspiratória, nenhum alerta vermelho, nenhuma
convulsão à vista. Mas a vida é dura,
o governo deixa a desejar, o dinheiro
anda curto, os juros continuam subindo. E 2006 é ano de eleição, ou de
reeleição.
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