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CARLOS HEITOR CONY
A necessidade do homem
RIO DE JANEIRO - Antigamente, na geração anterior à minha, era
moda cultivada entre as gentes: o
indagar-se. No encontro de intelectuais com o papa, em 1981, aqui no
Rio, Alceu Amoroso Lima contou
que, em Veneza, em 1913, sentado
no bar do hotel Danieli, teve uma
dessas crises e por pouco não ia cometendo suicídio.
Mestre Alceu procurava então,
aos 19 anos, "um sentido para a vida", moda que todos os rapazes de
sua geração, e alguns da geração seguinte, achavam tão bacana quanto,
nos anos 60/70, usar as roupas hippies, fumar maconha e gostar dos
Beatles. Cada geração, em certo
sentido, tem a moda que merece.
No caso de Alceu, ele não se precipitou. Decidiu esperar pelos acontecimentos. E, em 1928, converteu-se
ao catolicismo.
De Alceu passo para Bastos Tigre.
Ele fazia a si próprio as perguntas
de sempre: quem sou, onde estou,
para onde vou? Depois de rolar sabedoria e pessimismo, o poeta dá
uma trava violenta na pesquisa filosófica e responde: "Quem sou?
Funcionário da nação. Onde estou?
No bonde. Para onde vou? Para a
repartição".
Acredito que a humildade -e não
a esperança- é a virtude que dá ao
homem o dom de suportar o mundo. Sou homem sem Fé e sem Esperança. Mas, à minha maneira, cultivo uma humildade básica, que talvez nem seja humildade, mas simples mancômetro.
Toda busca que encontra Deus
no fim do caminho nasce de um orgulho mal-informado: o homem
não aceita o absurdo de sua condição, a falta de sentido para a vida -a
própria e a geral. Então, a presença
de Deus se encaixa no problema,
peça de armar que completa a paisagem, feita à imagem e semelhança do próprio problema. O homem
criou Deus para se justificar, para
continuar sendo diferente das beterrabas e dos siris. Daí a necessidade de Deus e de sua criatura, o homem.
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