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Planalto inquieto
Fim da CPMF não seria uma catástrofe nem obrigaria o governo a administrar melhor as
suas despesas e receitas
O GOVERNO Luiz Inácio
Lula da Silva dá sinais
de inquietude na batalha pela CPMF. Trocou a soberba de quem tratava a
vitória como favas contadas pela
insegurança. Tomou as primeiras atitudes para o caso de não
poder contar com os R$ 120 bilhões do imposto nos últimos
três anos de mandato.
O Planalto suspendeu o anúncio de uma nova "política industrial" -que envolveria renúncias
fiscais-, adiou o envio de projetos com aumentos salariais para
categorias do funcionalismo e
mandou retardar o trâmite do
Orçamento de 2008 no Congresso. De quebra, abortou a promessa de apresentar já o seu programa de reforma tributária.
Prepondera, obviamente, o espírito da chantagem na reação do
Executivo. O governo manda recados, sobretudo a empresários e
parlamentares, de que haverá
"socialização de prejuízos" em
caso de derrota da proposta que
prorroga o imposto do cheque
até 2011. Fica no ar a ameaça de
maldades maiores, na forma de
aumento da alíquota de contribuições sociais como a CSLL e a
Cofins e da diminuição de repasses de recursos aos Estados.
A intimidação é o último refúgio de um governo imprevidente
e incompetente em matéria de
negociação parlamentar. A discussão sobre o futuro da CPMF
deveria ter começado no dia seguinte à reeleição de Lula.
Desde então se sabia que essa
seria a principal disputa do primeiro ano da segunda gestão. As
balizas da discussão também
eram conhecidas: a fragilidade
do governo no Senado, a intolerância da sociedade à carga tributária galopante e a necessidade de um ajuste fiscal desta vez
baseado na diminuição das despesas de custeio do setor público.
Mas o Planalto, em vez de tomar
a iniciativa do debate e propor
concessões, acomodou-se.
Diferentemente do que veiculam "negociadores" truculentos
de Lula, a eventual derrubada da
CPMF não seria uma catástrofe.
Mas, ao contrário do que pensam
os mais afoitos defensores da extinção imediata do tributo, tampouco obrigaria o Planalto a gerir
com mais racionalidade gastos e
receitas. Na hipótese do fim da
contribuição, a inércia adaptativa de qualquer governo o levaria
a cortar investimentos e aumentar impostos onde possível.
A substituição de parte da carga da CPMF pela Cofins ou a
CSLL seria lesiva à geração de
empregos. A única maneira de
sair com organização dessa encalacrada é obrigar o Executivo a
assumir um compromisso de diminuição paulatina de seus gastos e a aceitar uma queda, também gradual, da carga tributária.
Derrubar o imposto do cheque
significa liberar o governo de
qualquer obrigação desse tipo.
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