São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Já apertou

Crédito cresce no país em outubro, mas algumas linhas se contraem bruscamente, e as taxas de juros disparam

EM OUTUBRO o volume total de crédito na economia brasileira cresceu 2,9% em relação a setembro, atingindo R$ 1,18 trilhão, o equivalente a 40,2% do PIB. À primeira vista, esse dado sugere que o cenário doméstico foi pouco contaminado pela crise internacional. Uma leitura mais detida, porém, revela que essa impressão é falsa.
Em primeiro lugar, o crescimento do crédito parece ter sido magnificado por limitações dos demonstrativos do BC. Alguns prejuízos de empresas com derivativos de câmbio, por exemplo, foram renegociados com os bancos e entraram na estatística de dívida sem que o respectivo desembolso tenha ocorrido.
Os dados abertos por tipo de operação revelam que algumas linhas foram brutalmente contraídas. Nas concessões para pessoas jurídicas, os descontos de notas promissórias, o crédito para a aquisição de bens e o adiantamento de contratos de câmbio (ACC) caíram 20%; a diminuição nos repasses de recursos externos foi de 35%.
Para pessoas físicas, os empréstimos para a compra de veículos baixaram 37,2%, e o crédito pessoal, 9,8%. Os indivíduos recorreram mais ao cheque especial para equilibrar as contas.
Simultaneamente, ocorreu um aumento considerável nas taxas de juros. De setembro para outubro, a taxa sobre o desconto de promissórias subiu 11 pontos percentuais; sobre o capital de giro das empresas, 4,6 pontos percentuais. No cheque especial as taxas alcançaram incríveis 170,8% ao ano. Os prazos também começaram a encolher: na modalidade de capital de giro o encurtamento foi de 15 dias; na aquisição de veículos por pessoas físicas, de 7 dias.
Assim, há claros sinais de que o crédito no Brasil está rapidamente se tornando mais restrito, mais caro e mais curto.
Apesar de obscuras, as operações emergenciais pelas quais a CEF e o Banco do Brasil emprestaram para a Petrobras R$ 2 bilhões e R$ 751 milhões, respectivamente, no final de outubro, explicitam a dimensão da escassez de crédito. A estatal deve explicações sobre as operações aos acionistas e aos contribuintes -ainda mais num contexto em que o preço da gasolina no mercado doméstico está 50% acima do vigente no mercado internacional, sugerindo que a empresa não deveria ter problemas de caixa.
Houve ainda a divulgação de dificuldades enfrentadas por uma siderúrgica para honrar o pagamento de matérias-primas. Garantir a compra de insumos básicos é essencial para a manutenção das operações de qualquer empreendimento. Dificuldades nessa área podem revelar problemas de financiamento e/ ou queda no faturamento.
Nesse contexto de crise, cabe ao governo brasileiro conter seus gastos correntes, inclusive para preservar os investimentos. Cabe ao Executivo, ainda, garantir que o sistema financeiro cumpra adequadamente suas funções de ofertante de crédito.


Próximo Texto: Editoriais: Limite à meia-entrada

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.