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Já apertou
Crédito cresce no país em outubro, mas algumas linhas se contraem bruscamente, e as taxas de juros disparam
EM OUTUBRO o volume total de crédito na economia brasileira cresceu
2,9% em relação a setembro, atingindo R$ 1,18 trilhão, o
equivalente a 40,2% do PIB. À
primeira vista, esse dado sugere
que o cenário doméstico foi pouco contaminado pela crise internacional. Uma leitura mais detida, porém, revela que essa impressão é falsa.
Em primeiro lugar, o crescimento do crédito parece ter sido
magnificado por limitações dos
demonstrativos do BC. Alguns
prejuízos de empresas com derivativos de câmbio, por exemplo,
foram renegociados com os bancos e entraram na estatística de
dívida sem que o respectivo desembolso tenha ocorrido.
Os dados abertos por tipo de
operação revelam que algumas
linhas foram brutalmente contraídas. Nas concessões para
pessoas jurídicas, os descontos
de notas promissórias, o crédito
para a aquisição de bens e o
adiantamento de contratos de
câmbio (ACC) caíram 20%; a diminuição nos repasses de recursos externos foi de 35%.
Para pessoas físicas, os empréstimos para a compra de veículos baixaram 37,2%, e o crédito pessoal, 9,8%. Os indivíduos
recorreram mais ao cheque especial para equilibrar as contas.
Simultaneamente, ocorreu um
aumento considerável nas taxas
de juros. De setembro para outubro, a taxa sobre o desconto de
promissórias subiu 11 pontos
percentuais; sobre o capital de
giro das empresas, 4,6 pontos
percentuais. No cheque especial
as taxas alcançaram incríveis
170,8% ao ano. Os prazos também começaram a encolher: na
modalidade de capital de giro o
encurtamento foi de 15 dias; na
aquisição de veículos por pessoas físicas, de 7 dias.
Assim, há claros sinais de que o
crédito no Brasil está rapidamente se tornando mais restrito,
mais caro e mais curto.
Apesar de obscuras, as operações emergenciais pelas quais a
CEF e o Banco do Brasil emprestaram para a Petrobras R$ 2 bilhões e R$ 751 milhões, respectivamente, no final de outubro, explicitam a dimensão da escassez
de crédito. A estatal deve explicações sobre as operações aos
acionistas e aos contribuintes
-ainda mais num contexto em
que o preço da gasolina no
mercado doméstico está 50%
acima do vigente no mercado internacional, sugerindo que a empresa não deveria ter problemas
de caixa.
Houve ainda a divulgação de
dificuldades enfrentadas por
uma siderúrgica para honrar o
pagamento de matérias-primas.
Garantir a compra de insumos
básicos é essencial para a manutenção das operações de qualquer empreendimento. Dificuldades nessa área podem revelar
problemas de financiamento e/
ou queda no faturamento.
Nesse contexto de crise, cabe
ao governo brasileiro conter seus
gastos correntes, inclusive para
preservar os investimentos. Cabe ao Executivo, ainda, garantir
que o sistema financeiro cumpra
adequadamente suas funções de
ofertante de crédito.
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