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ELIANE CANTANHÊDE
Até debaixo d"água
BRASÍLIA - A humanidade não
está brincando com fogo, está brincando com água. Já houve as tragédias da Índia, da China, da Tailândia, dos EUA, e chegou a vez do Brasil, o paraíso tropical onde faz sol de
janeiro a janeiro, não há terremotos, maremotos, nem furacões. Pelo
menos até agora.
A tragédia que afunda Santa Catarina em água, lama e uma centena
de mortes não é uma questão política, nem de gerência, é um alerta da
"Mãe Natureza". Está na hora de
parar de achar que esse tal de aquecimento global e essa tal de mudança climática são devaneios de lunáticos que não têm o que fazer.
A natureza está mandando sinais
de alerta, que o homem agrava ao
desenvolver cidades e povoados perigosamente margeando os rios e
desrespeitando o limite de 20% de
inclinação das encostas para construir suas casas, pobres ou ricas, como surgem nas fotos de Santa Catarina agora.
Em todas as calamidades assim,
possivelmente o maior número de
mortos e desabrigados é justamente entre os que habitam as encostas.
A chuva excede a média, o rio transborda, a terra se afofa. As casas vêm
abaixo junto com a água, a lama e os
seus moradores. Até a próxima
tempestade, os próximos desabamentos, as próximas mortes.
O caos em Santa Catarina é como
se um dos mais bonitos cartões-postais brasileiros estivesse sendo
rasgado, despedaçado, justamente
às vésperas do seu período anual de
glória: o verão. Aliás, é uma trágica
ironia que a mais nova edição da revista da Gol enalteça até na capa as
belezas catarinenses, conclamando
os viajantes a se deliciarem com
suas praias e comidas.
É difícil escrever num momento
assim, mas é impossível ficar indiferente e não escrever nada. Até
porque as chuvas passam e vêm o
desabastecimento, a desordem, a
falta de estradas, de água tratada e
de luz e o imenso risco de doenças,
até epidemias. Sem falar na dor de
milhares, que fica -para sempre.
elianec@uol.com.br
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