São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Até debaixo d"água

BRASÍLIA - A humanidade não está brincando com fogo, está brincando com água. Já houve as tragédias da Índia, da China, da Tailândia, dos EUA, e chegou a vez do Brasil, o paraíso tropical onde faz sol de janeiro a janeiro, não há terremotos, maremotos, nem furacões. Pelo menos até agora.
A tragédia que afunda Santa Catarina em água, lama e uma centena de mortes não é uma questão política, nem de gerência, é um alerta da "Mãe Natureza". Está na hora de parar de achar que esse tal de aquecimento global e essa tal de mudança climática são devaneios de lunáticos que não têm o que fazer.
A natureza está mandando sinais de alerta, que o homem agrava ao desenvolver cidades e povoados perigosamente margeando os rios e desrespeitando o limite de 20% de inclinação das encostas para construir suas casas, pobres ou ricas, como surgem nas fotos de Santa Catarina agora.
Em todas as calamidades assim, possivelmente o maior número de mortos e desabrigados é justamente entre os que habitam as encostas.
A chuva excede a média, o rio transborda, a terra se afofa. As casas vêm abaixo junto com a água, a lama e os seus moradores. Até a próxima tempestade, os próximos desabamentos, as próximas mortes.
O caos em Santa Catarina é como se um dos mais bonitos cartões-postais brasileiros estivesse sendo rasgado, despedaçado, justamente às vésperas do seu período anual de glória: o verão. Aliás, é uma trágica ironia que a mais nova edição da revista da Gol enalteça até na capa as belezas catarinenses, conclamando os viajantes a se deliciarem com suas praias e comidas.
É difícil escrever num momento assim, mas é impossível ficar indiferente e não escrever nada. Até porque as chuvas passam e vêm o desabastecimento, a desordem, a falta de estradas, de água tratada e de luz e o imenso risco de doenças, até epidemias. Sem falar na dor de milhares, que fica -para sempre.

elianec@uol.com.br



Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A violência e as culpas
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Fernando Gabeira: O futuro das chuvas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.