|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO GABEIRA
O futuro das chuvas
RIO DE JANEIRO - Quando passou um furacão em Santa Catarina,
por acaso, estava lá. Constatei que
havia infra-estrutura razoável e que
a defesa civil era boa. Numa cidade
como o Rio, 40 minutos de temporal bastam para inundar alguns dos
seus principais bairros.
Isso significa que chuvas como as
que caíram em Santa Catarina podem ser mais devastadoras ainda
em algumas regiões do país. Lá
mesmo, houve grandes chuvas em
1980 e 83. Não se falava ainda no
processo de mudanças climáticas.
Metrópoles como Londres acreditam na possibilidade dessas mudanças. Têm estrutura e autoridade
designada para realizar o que os debates internacionais recomendam
diante do futuro: adaptação.
Não sei se o caminho no Brasil se
resume em alertar para mudanças
climáticas, nas quais muitos, apesar
de 20 anos de alerta, não acreditam.
Há coisas mais elementares que poderiam nos unir: limpar galerias,
desentupir bueiros, recolocar pessoas que vivem em perigosas encostas ou, ilegalmente, próximas aos
espelhos-d'água.
Durante algum tempo, fixei-me
na idéia de adaptação e cheguei e
prever no Orçamento uma verba
para Petrópolis desenvolver um
plano. A idéia era simples: se fizéssemos um plano numa cidade castigada por temporais, poderíamos
oferecê-lo a outras cidades do mundo, respeitadas as singularidades.
Mas é preciso baixar a bola. Criar
um mecanismo para avaliar se as cidades estão mesmo fazendo o trabalho subterrâneo. Nem sempre as
empresas cumprem os contratos:
algumas vezes, perto de eleições, o
dinheiro poupado é dividido com os
políticos.
Bastaria um robô para inspecionar as galerias. Com tanta ONG no
Brasil, por que não criar uma para
fazer o que os governos desprezam?
Não importa se as mudanças climáticas virão. Estamos indefesos diante das chuvas de verão.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Até debaixo d"água Próximo Texto: José Sarney: A revolta da natureza Índice
|