|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Vigilância no ensino
Diminuição do ritmo de crescimento do ensino superior permite maior esforço pela melhoria da qualidade de educação
O CENSO da Educação Superior de 2008, divulgado ontem pelo MEC,
indica uma tendência
de diminuição do ritmo de crescimento do ensino de graduação
tradicional no país. Números de
vagas, de matrículas totais e de
novos alunos continuam a aumentar, por certo, mas as taxas
vêm gradualmente diminuindo
ao longo da década.
Essa acomodação natural é
acompanhada, por outro lado,
pelo crescimento ainda explosivo da educação a distância, que
tem aumentado a participação
relativa no total de estudantes de
graduação no país. Do total de
1.936.078 novos alunos que ingressaram nas faculdades e universidades brasileiras no início
do ano passado, 430.259 -cerca
de 22%- se inscreveram em cursos não presenciais.
Em relação ao total de alunos
que entravam na universidade, a
fatia de novos ingressantes em
cursos a distância era de aproximadamente 17% em 2007, cerca
de 13% em 2006, e ainda pouco
mais de 8% em 2005.
Tal tendência guarda relação
com outro fenômeno flagrado no
censo. Depois de crescer a um
ritmo de até 13% na primeira
metade da década, a criação de
instituições de ensino superior
perdeu fôlego. Chega-se agora,
na prática, a uma estabilização. O
total de unidades caiu de 2.281,
em 2007, para 2.252 em 2008.
Especialistas atribuem o fato a
uma incipiente concentração de
mercado das empresas privadas
de educação, de resto ainda bastante fragmentado. Universidades ou faculdades maiores ampliam os seus negócios comprando concorrentes menores na
mesma cidade -ou outras unidades no interior do país. É comum que, em muitos casos, seja
o modelo de educação a distância
que passe a ser adotado.
No retrato do ensino superior
divulgado ontem, merece ainda
destaque a preocupante constatação de que cresceram as matrículas em escolas com má qualidade de ensino. Houve um aumento de 11% no número de ingressantes em universidades
com notas baixas nas avaliações
do governo federal. Já a média de
expansão dos alunos em cursos
presenciais foi menor, de 4%.
Todos esses aspectos se combinam para exigir do governo redobrados esforços de atenção sobre
a qualidade do ensino de graduação. A própria moderação nas taxas de crescimento do ensino superior tradicional permite uma
melhor vigilância, ao limitar o
universo dos cursos cuja qualidade precisa ser acompanhada.
No caso dos cursos a distância,
que ainda vivem uma forte ampliação, é de esperar que o controle de sua qualidade não seja
relegado a um momento posterior -justamente por ser um
modelo novo, a exigir acompanhamento cerrado.
Como já se sabe da experiência
com o ensino fundamental, a
ampliação do número de vagas e
de estudantes matriculados é
apenas o primeiro passo no processo de aprimoramento da educação no país. Não se pode desprezar, contudo, o impacto social
e econômico dessa ampliação do
acesso ao diploma superior por
milhares de jovens cujos pais não
tiveram a mesma oportunidade.
Próximo Texto: Editoriais: E o Brasil se absteve
Índice
|