São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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Editoriais

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Vigilância no ensino

Diminuição do ritmo de crescimento do ensino superior permite maior esforço pela melhoria da qualidade de educação

O CENSO da Educação Superior de 2008, divulgado ontem pelo MEC, indica uma tendência de diminuição do ritmo de crescimento do ensino de graduação tradicional no país. Números de vagas, de matrículas totais e de novos alunos continuam a aumentar, por certo, mas as taxas vêm gradualmente diminuindo ao longo da década.
Essa acomodação natural é acompanhada, por outro lado, pelo crescimento ainda explosivo da educação a distância, que tem aumentado a participação relativa no total de estudantes de graduação no país. Do total de 1.936.078 novos alunos que ingressaram nas faculdades e universidades brasileiras no início do ano passado, 430.259 -cerca de 22%- se inscreveram em cursos não presenciais.
Em relação ao total de alunos que entravam na universidade, a fatia de novos ingressantes em cursos a distância era de aproximadamente 17% em 2007, cerca de 13% em 2006, e ainda pouco mais de 8% em 2005.
Tal tendência guarda relação com outro fenômeno flagrado no censo. Depois de crescer a um ritmo de até 13% na primeira metade da década, a criação de instituições de ensino superior perdeu fôlego. Chega-se agora, na prática, a uma estabilização. O total de unidades caiu de 2.281, em 2007, para 2.252 em 2008.
Especialistas atribuem o fato a uma incipiente concentração de mercado das empresas privadas de educação, de resto ainda bastante fragmentado. Universidades ou faculdades maiores ampliam os seus negócios comprando concorrentes menores na mesma cidade -ou outras unidades no interior do país. É comum que, em muitos casos, seja o modelo de educação a distância que passe a ser adotado.
No retrato do ensino superior divulgado ontem, merece ainda destaque a preocupante constatação de que cresceram as matrículas em escolas com má qualidade de ensino. Houve um aumento de 11% no número de ingressantes em universidades com notas baixas nas avaliações do governo federal. Já a média de expansão dos alunos em cursos presenciais foi menor, de 4%.
Todos esses aspectos se combinam para exigir do governo redobrados esforços de atenção sobre a qualidade do ensino de graduação. A própria moderação nas taxas de crescimento do ensino superior tradicional permite uma melhor vigilância, ao limitar o universo dos cursos cuja qualidade precisa ser acompanhada.
No caso dos cursos a distância, que ainda vivem uma forte ampliação, é de esperar que o controle de sua qualidade não seja relegado a um momento posterior -justamente por ser um modelo novo, a exigir acompanhamento cerrado.
Como já se sabe da experiência com o ensino fundamental, a ampliação do número de vagas e de estudantes matriculados é apenas o primeiro passo no processo de aprimoramento da educação no país. Não se pode desprezar, contudo, o impacto social e econômico dessa ampliação do acesso ao diploma superior por milhares de jovens cujos pais não tiveram a mesma oportunidade.


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