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E o Brasil se absteve
QUATRO dias após a passagem por Brasília do líder
do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, o Itamaraty teve a primeira oportunidade de aplicar os
princípios de política externa
enunciados pelo presidente Lula
diante de seu homólogo iraniano. O resultado foi frustrante.
Motivada pelas reiteradas protelações e falsidades do regime
dos aiatolás acerca de seu projeto nuclear, a Agência de Energia
Atômica da ONU (AIEA) propôs
ontem uma moção de censura
contra o Irã. Vinte e cinco dos 35
países com voto na organização
endossaram a proposta -incluindo China e Rússia, que tradicionalmente resistem a pressionar o país persa. O Brasil simplesmente se absteve.
Pela primeira vez em quatro
anos, a AIEA -que optava por
um trabalho mais discreto, na
expectativa de obter a colaboração das autoridades xiitas- subiu o tom publicamente contra o
Irã. Motivou a sanção a falta de
informações sobre as atividades
de uma usina de processamento
de urânio numa base da Guarda
Revolucionária do Irã, cuja existência vinha sendo escondida da
comunidade internacional.
Diante de mais esse indício de
que o regime islâmico promove
uma corrida às armas atômicas,
em vez do alegado objetivo de
produzir eletricidade, o chefe da
AIEA, o egípcio Mohamed ElBaradei, declarou que as relações
com o Irã chegaram a um "beco
sem saída". Signatário do Tratado de Não Proliferação, o país
persa está obrigado a prestar
contas e a deixar-se fiscalizar pela agência multilateral, mas vem
sabotando esse compromisso.
Na segunda-feira, diante de
Ahmadinejad, o presidente Lula
reafirmou o repúdio às armas
atômicas, inscrito na Constituição do Brasil. Defendeu o uso da
energia nuclear para fins pacíficos, norteado pelos tratados internacionais. Palavras ao vento,
pelo visto -pois, enquanto o Irã
se desvia dessa rota, o Itamaraty
se omite.
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