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CLÓVIS ROSSI
O Exército e o ovo da serpente
SÃO PAULO - Do subchefe operacional da Polícia Civil do Rio, Rodrigo Oliveira, na quinta-feira: "A comunidade [da Vila Cruzeiro] hoje
pertence ao Estado".
Que bom. Mas é indispensável
perguntar: não deveria ter sido
sempre assim? E não só com a Vila
Cruzeiro, mas com todas as comunidades espalhadas pelo Brasil.
Por não ter sido sempre assim,
fertilizou-se o campo para a criminalidade, a grossa e a miúda.
Cabe também perguntar -e talvez seja a pergunta-chave- por que
demorou tanto tempo para recuperar a Vila Cruzeiro se, agora, todo
mundo diz que se trata de um bastião do narcotráfico?
Por que foi preciso que a bandidagem praticasse, no asfalto, cenas
de guerrilha explícita para que as
autoridades reagissem?
O cotidiano de medo a que vivem
submetidos os brasileiros, nas
grandes e médias cidades, não bastou para requisitar o auxílio das
Forças Armadas. Talvez porque o
medo é individual, não oferece cenas coletivas de barbárie como as
que se viram nos últimos dias no
Rio (e, não convém esquecer, em
São Paulo anos atrás).
A omissão, para dizer o menos,
das autoridades incubou o ovo da
serpente. Abortá-lo agora é infinitamente mais complicado, até porque o recurso ao Exército para ajudar na invasão do Complexo do
Alemão é uma confissão tácita de
que a polícia, por si só, não consegue ganhar a guerra.
Até entendo o horror que muitos,
esta Folha inclusive, expressam
ante a hipótese de as Forças Armadas serem chamadas em auxílio da
polícia. Há argumentos fortes para
rejeitar a ideia.
O problema é que a alternativa
parece ser a de devolver a Vila Cruzeiro aos antigos "donos". Se eles
toparem ficar quietos no morro,
sem o fogaréu que acenderam no
asfalto, acabará sendo a acomodação de sempre. E a serpente parirá
um ovo muito mais robusto lá na
frente.
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