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O VERDADEIRO MURO
A aprovação de uma lei pela
Câmara dos EUA que prevê a
construção de um muro ao longo da
fronteira com o México foi classificada pelo presidente mexicano, Vicente Fox, como uma "vergonha". Pelo
projeto, a imigração ilegal torna-se
crime (sujeitando os infratores a penas de prisão), e os empregadores terão de responder pela situação de
seus funcionários estrangeiros.
A idéia de erguer barreiras entre povos desperta justificada indignação,
ainda mais depois que a destruição
do Muro de Berlim foi celebrada como prenúncio de uma "nova ordem"
mundial. Mas os artífices desse novo
ordenamento -os líderes do capitalismo global- parecem ter uma visão particular sobre as fronteiras.
Elas devem ser apagadas para favorecer a livre circulação de mercadorias
e capitais, de preferência em benefício das economias mais poderosas,
mas realçadas para impedir o trânsito de pessoas em busca trabalho.
Trata-se menos de um impulso de
segregação étnica -embora ele exista- e mais de uma tentativa de proteção econômica. Embora imigrantes sejam úteis para as economias desenvolvidas, a partir de um certo
ponto tornam-se uma fonte de problemas. E não há dúvida de que as
ações do terror islâmico em países
ocidentais têm ajudado a recrudescer
o sentimento antiimigrantes.
Estima-se que existam nos EUA 11
milhões de estrangeiros em situação
irregular. Ainda que a maior parte
dos clandestinos latino-americanos
provenha do México, pessoas de diversas origens cruzam a fronteira entre os dois países -e o número de
brasileiros é crescente.
Não há como negar o direito dos
EUA de deterem esse fluxo ilegal,
mesmo que para isso recorram a um
muro. Como escreveu nesta Folha o
filósofo esloveno Slavoj Zizek, "a
única solução real é derrubar o verdadeiro muro, não o político, mas o socioeconômico: mudar a sociedade
para que as pessoas não tentem mais
desesperadamente escapar de seu
próprio mundo".
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