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CLÓVIS ROSSI
A empulhação, em números
SÃO PAULO - A Folha pôs números no jogo de búzios que é, no Brasil, a
previsão sobre o desempenho da economia feita pelos chamados analistas de mercado.
Sobre como estaria a cotação do
dólar no fim do ano, as consultorias
cometeram um "ligeiro" equívoco de
22,7%. Erro parecido se deu no lançamento de búzios sobre o crescimento econômico: 29,14%.
Nos juros, o erro ficou em "apenas"
12,5%. Em compensação, na balança
comercial, o equívoco foi poderoso:
66,6%. Mas não se espante ainda: erraram por impressionantes 390% a
previsão sobre o superávit externo. O
melhor resultado foi o erro de 10% no
superávit fiscal primário.
Meu caro empresário, que sustenta
tais consultorias com contratos regiamente pagos: o que você faria com
seu diretor financeiro se cometesse
erros de previsão de entre 10% e
390%? Empalaria, fuzilaria ou simplesmente sugeriria a seu concorrente que contratasse esse gênio?
No entanto, você continua pagando as consultorias, embora haja provas contundentes de que, em matéria
de previsão econômica, são a mais
completa e pura empulhação. E, se
erram com tamanha margem em todos os palpites, como confiar em outras análises e conselhos desse pessoal?
Os dados não são meus, não. São
do Banco Central, que, por incrível
que pareça, também acredita nos
tais analistas e toma decisões com
base na falsa ciência deles.
Imagino que deva haver alguma
consultoria, um ou dois analistas,
que erram menos. Mas não vejo ninguém fazendo a triagem. Nós, jornalistas, por exemplo, nos acomodamos
a meia dúzia de nomes, de pessoas físicas e jurídicas, como os palpiteiros
de plantão sobre a economia.
Sempre os mesmos. Erram, sabemos que erram, publicamos que erram, mas voltamos a consultá-los na
primeira oportunidade.
Alguma surpresa com o fato de o
Brasil ser tão medíocre no desempenho econômico como na discussão
sobre economia?
@ - crossi@uol.com.br
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