São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Legado do "mensalão"

BRASÍLIA - O pior resultado que a atual crise do "mensalão" pode legar ao Brasil é a redução do interesse geral dos eleitores pela política.
Para completar, na esteira da decepção generalizada, aparecem propostas disfarçadas de modernas, mas que só pioram o quadro. Por exemplo, a diminuição das campanhas políticas e do tempo de TV nas propagandas eleitorais.
A lógica em defesa da tese é indigente: "Os políticos roubam muito nas suas campanhas milionárias. Vamos diminuir o tempo de campanha. A ladroagem não acaba, mas fica menor". Ou seja, vamos jogar fora o sofá e culpá-lo pelo adultério. Assim, haverá menos traições.
Por sorte, esse despautério -patrocinado pelo PFL e apoiado com vigor por PT, PSDB e cia- parece ter chance mínima de prosperar. Não porque deputados e senadores percebam a impropriedade da proposta, mas por total desarticulação política dos partidos para votar qualquer coisa no Congresso. Em resumo, quando um deputado ou senador não tem uma idéia, o Brasil melhora.
No meio desse deserto de boas propostas, o "mensalão" continuou a correr solto. Quando o deputado mensaleiro que recebeu mais de R$ 450 mil foi absolvido, aconteceu o pior na sociedade: nada. Não houve passeatas de protestos em Brasília nem em Minas Gerais, onde foi eleito o obscuro congressista.
Esse estado de anestesia do eleitor pavimenta o caminho para mais absolvições no ano que vem. Talvez esteja se consolidando entre os brasileiros a noção nefanda de que "os políticos são todos iguais". Não são.
O dinheiro torrado por Delúbio e Marcos Valério terá sido bem gasto se ajudar a aumentar a impaciência e a cobrança dos eleitores em relação aos políticos. Não parece ainda ser o caso. Mas a resposta final será conhecida na eleição do ano que vem.


@ - frodriguesbsb@uol.com.br

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