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FERNANDO RODRIGUES
Legado do "mensalão"
BRASÍLIA - O pior resultado que a atual crise do "mensalão" pode legar
ao Brasil é a redução do interesse geral dos eleitores pela política.
Para completar, na esteira da decepção generalizada, aparecem propostas disfarçadas de modernas, mas
que só pioram o quadro. Por exemplo, a diminuição das campanhas
políticas e do tempo de TV nas propagandas eleitorais.
A lógica em defesa da tese é indigente: "Os políticos roubam muito
nas suas campanhas milionárias.
Vamos diminuir o tempo de campanha. A ladroagem não acaba, mas fica menor". Ou seja, vamos jogar fora
o sofá e culpá-lo pelo adultério. Assim, haverá menos traições.
Por sorte, esse despautério -patrocinado pelo PFL e apoiado com vigor
por PT, PSDB e cia- parece ter
chance mínima de prosperar. Não
porque deputados e senadores percebam a impropriedade da proposta,
mas por total desarticulação política
dos partidos para votar qualquer coisa no Congresso. Em resumo, quando
um deputado ou senador não tem
uma idéia, o Brasil melhora.
No meio desse deserto de boas propostas, o "mensalão" continuou a
correr solto. Quando o deputado
mensaleiro que recebeu mais de R$
450 mil foi absolvido, aconteceu o
pior na sociedade: nada. Não houve
passeatas de protestos em Brasília
nem em Minas Gerais, onde foi eleito
o obscuro congressista.
Esse estado de anestesia do eleitor
pavimenta o caminho para mais absolvições no ano que vem. Talvez esteja se consolidando entre os brasileiros a noção nefanda de que "os políticos são todos iguais". Não são.
O dinheiro torrado por Delúbio e
Marcos Valério terá sido bem gasto se
ajudar a aumentar a impaciência e a
cobrança dos eleitores em relação aos
políticos. Não parece ainda ser o caso.
Mas a resposta final será conhecida
na eleição do ano que vem.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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