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CARLOS HEITOR CONY
O sol por comissão
RIO DE JANEIRO - Li reclamações na mídia sobre a visita do presidente francês ao Brasil. Os resmungões de sempre (entre os quais
o cronista) chegaram a chamá-lo de
caixeiro viajante, um mascate que
vai com sua mala cheia de novidades às regiões distanciadas do consumo, levando artigos de armarinho que não chegam lá.
Não chega a ser novidade. Na década de 1920, quando veio o rei Alberto, da Bélgica, entendidos descobriram que o descendente da rainha Vitória representava um grupo
econômico que servia de fachada do
Comitê des Forges, e o resultado foi
a criação da Belgo Mineira.
São muitos e variados os exemplos dos mascates que aqui chegam
com seus produtos, em alguns casos, simples bugigangas. Evidente
que não foi o caso do presidente
Sarkozy. Ele veio com submarinos e
tecnologia nuclear para vender,
além de uma bela primeira dama
que deu trabalho aos fotógrafos que
fizeram plantão na calçada do Copacabana Palace.
A verdade é que os chefes de Estado há muito se transformaram
em representantes de ponta das
grandes empresas de seus países. Se
ganhassem comissões pelos acordos feitos, na base dos 10% ou dos
20% em suas viagens, seriam os
executivos mais bem pagos do
mundo. Ganhariam uma baba.
Bem verdade que Sarkozy teve
uma espécie de comissão pessoal
nessa visita. Aproveitou a viagem
de negócios para passar uns dias no
litoral baiano, apreciando a bela
paisagem acrescida com a presença
de sua jovem e recente esposa: ninguém é de ferro.
Lá na França, a oposição reclamou da ausência do seu presidente
em época de crise mundial, justo no
momento das festas natalinas.
Acontece que Sarkozy já deve estar
de saco cheio de ver a torre Eiffel
iluminada e preferiu ver o luminoso
sol da Bahia.
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