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Fronteira esquecida
Ataque a brasileiros no Suriname chama atenção para emigrados que atuam em região com parca presença estatal
O ATAQUE , na noite de
Natal, contra um grupo de garimpeiros brasileiros no Suriname
chamou as atenções nacionais
para uma região de fronteira e
uma significativa população de
emigrados que vêm sendo negligenciadas pela sociedade e pelo
governo brasileiros.
O estopim da violência, segundo relatos, foi o assassinato de
um surinamês, atribuído a um
brasileiro que lhe devia dinheiro.
Dezenas de compatriotas cercaram um acampamento na cidade
de Albina, junto à fronteira com
a Guiana Francesa, onde moram
cerca de 80 brasileiros, e agrediram homens, mulheres e crianças a golpes de facão.
Eram imprecisas, até a noite de
ontem, as informações sobre o
número de feridos durante a investida de descendentes de quilombolas locais contra os brasileiros. Por não haver confirmação de mortos entre os garimpeiros atacados, o embaixador José
Luiz Machado e Costa relatou
como "tranquilizadora" a visita
que fez, ontem, a Albina.
Ele já havia afirmado que "alguma tensão" em relação aos
brasileiros pode advir da situação irregular de muitos deles,
"vistos como pessoas que usufruem dos serviços públicos sem
pagar nada por eles".
Sabe-se ainda que, desde os
anos 90, aumentou o fluxo de
pessoas oriundas do Norte e do
Nordeste do país para o Suriname, migração intensificada após
o estabelecimento de vigilância
mais rigorosa pela Guiana Francesa em suas fronteiras.
Garimpeiros, geralmente ilegais, têm se estabelecido na região limítrofe do Suriname com
a Guiana Francesa para explorar
ouro nos dois territórios. Estima-se entre 15 mil e 18 mil os
brasileiros no Suriname, cuja população é de 480 mil pessoas.
No sentido inverso, inquéritos
sobre o tráfico de armas para o
Brasil apontam a ex-colônia holandesa, independente desde
1975, mas ainda com acesso facilitado a portos europeus, como
entreposto na entrada ilegal de
armamentos em nosso país.
Se as fronteiras entre as Guianas, o Suriname e o Brasil contam com parca presença do Estado, a situação parece ainda mais
grave na região leste da ex-colônia holandesa. Grupos locais de
descendentes de escravos formaram milícias que combateram o governo no início dos anos
90. Foram pacificados, mas a
presença de policiais, militares
ou funcionários públicos ainda é
escassa na fronteira com a Guiana Francesa.
Não será tarefa fácil, nem exclusiva do Brasil, controlar melhor os fluxos de pessoas, de armas e de ouro na região, convergência que fatalmente gera situações de conflito.
O Estado brasileiro ainda tem
muito o que avançar na sua relação com emigrados, que em geral
contam com pouco apoio do serviço diplomático. É preciso
acompanhar melhor essas populações, prestar assistência quando necessário e coordenar esforços com governos estrangeiros a
fim de legalizar a situação de brasileiros que vivem irregularmente no exterior.
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