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ILUSÃO UNIVERSITÁRIA
Houve um tempo em que, ao
ser admitido numa faculdade
de direito, um jovem via seu futuro
praticamente assegurado, como advogado, juiz ou promotor público. A
situação, como se sabe, é hoje bastante diversa. Mudaram a universidade, o mercado de trabalho e os estudantes, muitos dos quais inadvertidamente compram a ilusão de que o
diploma é condição necessária e suficiente para o sucesso profissional.
A proliferação dos cursos universitários nos anos 90 e 2000 é a um só
tempo sintoma e causa dessas mudanças. Um mercado de trabalho cada vez mais exigente passou a cobrar
maior titulação dos jovens profissionais. Com isso, aumentou a oferta de
cursos e caiu a qualidade.
O fenômeno da multiplicação das
faculdades e do declínio da qualidade acadêmica foi especialmente intenso no campo do direito. Trata-se,
afinal, de uma carreira de prestígio,
cujo ensino é barato. Não exige muito mais do que o professor, livros,
uma lousa e o cilindro de giz.
Existem hoje 762 cursos jurídicos
no país. Em 1993, eles eram 183. A
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acaba de divulgar a lista das faculdades recomendadas. Das 215 avaliadas, apenas 60 (28%) receberam o
"nihil obstat". A ordem levou em
conta conceitos do provão e os resultados de seu próprio exame de credenciamento de bacharéis.
A verdade é que nenhum país do
mundo é constituído apenas por advogados, médicos e engenheiros.
Apenas uma elite chega a formar-se
nesses cursos. No Brasil, contudo,
criou-se a ilusão de que a faculdade
abre todas as portas. Assim, alunos
sem qualificação acadêmica para seguir essas carreiras pagam para obter diplomas que não lhes serão de
grande valia. É mais sensato limitar
os cursos e zelar por sua excelência,
evitando paliativos como o exame da
ordem, que é hoje absolutamente necessário para proteger o cidadão de
advogados incompetentes -o que
só confirma as graves deficiências do
sistema educacional.
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