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Lucros fora
Letargia doméstica favorece remessa de lucros ao exterior; saldos comerciais desafiam política econômica
A CONTA corrente -registro das transações
da economia brasileira
com o exterior- apresentou um saldo positivo de US$
13,5 bilhões, o equivalente a 1,4%
do PIB em 2006. O superávit comercial (exportações menos importações) de US$ 46,1 bilhões
foi mais do que suficiente para
cobrir os US$ 36,8 bilhões em
gastos com serviços (transportes, fretes, turismo) e rendas (remessas de lucros e juros).
A novidade foi a mudança de
patamar nas remessas de lucros
e dividendos de empresas estrangeiras aqui instaladas. Esse
fluxo para fora do país saltou de
US$ 5,2 bilhões em 2002 para
US$ 16,4 bilhões em 2006. O pagamento de juros a credores estrangeiros, por seu turno, caiu de
US$ 13,1 bilhões para US$ 11,3 bilhões no período.
Esse movimento, no que tange
à conta de juros, reflete a redução no estoque da dívida externa
e o nível mais baixo de juros em
vigor no mercado internacional.
Entre 2002 e 2006, a dívida do
Brasil com o restante do mundo
diminuiu R$ 41,8 bilhões. Já a
aceleração dos lucros remetidos
para fora só pode ser explicada
pela baixa perspectiva de crescimento da economia brasileira.
Diante do desempenho "haitiano" do PIB, as corporações
globais preferiram recolher seus
lucros no Brasil e investi-los em
outros países a aplicá-los em novos negócios aqui. Em 2006, as
remessas de lucros representaram 87% dos investimentos diretos realizados pelas multinacionais no Brasil (US$ 18,9 bilhões).
Encerrou-se o ciclo marcado
pela restrição no balanço de pagamentos, que estimulou as empresas brasileiras a endividar-se
em moeda estrangeira e favoreceu os investimentos externos
no país. Desde 2003, está em
curso um novo tipo de inserção
da economia brasileira na globalização, agora caracterizado por
expressivos saldos comerciais
-sustentados pelo agronegócio
e pelas matérias-primas metálicas, em um cenário global altamente favorável.
Contraditoriamente, o próprio
êxito comercial desencadeia
pressões pela valorização da taxa
de câmbio, com efeitos deletérios em grande parte do parque
produtivo brasileiro. A indústria
tem sido especialmente prejudicada pelo estímulo às importações de concorrentes estrangeiros. Completa-se, assim, um ciclo vicioso, pois a baixa perspectiva da economia doméstica favorece a remessa de lucros das
multinacionais.
Supondo a persistência desse
cenário nos próximos quatro
anos, haverá um saldo estimado
em US$ 180 bilhões acumulado
na conta do comércio externo
brasileiro. O que fazer com esses
recursos não é uma decisão trivial da política econômica. O
grande desafio será canalizá-los
para a modernização do parque
industrial e para a expansão da
produção e do emprego em território nacional.
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