São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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Gestão preventiva

Monitorar o avanço do crédito consignado é importante para evitar, no futuro, uma crise "subprime" no Brasil

O PRESIDENTE do Banco Central, Henrique Meirelles, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, cogitou da adoção de medidas preventivas, anticrise, no sistema financeiro nacional. O objetivo seria aprimorar as regras atuais diante da ameaça de contágio pela crise de crédito desencadeada nos Estados Unidos.
O presidente do BC sugeriu reformar as normas que determinam a alocação de capital próprio dos bancos em relação aos riscos incorridos em cada operação. Hoje os bancos brasileiros avaliam os diversos riscos envolvidos em suas operações e reservam pelo menos 11% do seu capital para compor uma espécie de seguro contra calotes.
Grosso modo, em uma operação de empréstimo de R$ 100, a instituição bancária deve manter R$ 11 em caixa livres para uso imediato. Essas regras, na verdade, já estão em processo de modificação gradual, na direção do chamado Acordo de Capital de Basiléia 2, que o BC brasileiro pretende implantar até 2011.
O conjunto do sistema bancário brasileiro mantinha em junho de 2007 -último dado disponível- 18,8% de seus recursos nesse fundo anticrise. Portanto, os bancos nacionais operam com níveis de segurança acima do exigido pela regulamentação.
Com a emergência da crise dos empréstimos para a casa própria nos EUA, é natural que as bases da vigorosa expansão do crédito no Brasil comecem a ser questionadas. As dívidas das pessoas físicas se expandem desde abril de 2003, inicialmente sob o impulso do crédito consignado e para a aquisição de bens e, depois, para a compra de imóveis.
No ano passado, o empréstimo com desconto em folha para aposentados do INSS e servidores públicos cresceu 32,1%; o para trabalhadores do setor privado, 37,1%. São taxas muito expressivas que, se não forem acompanhadas da expansão do emprego e da renda, podem comprometer o orçamento doméstico de milhões de famílias brasileiras no futuro.
Em novembro de 2007, o índice de inadimplência médio das operações com as pessoas físicas era de 7,1%, segundo o BC. Nada alarmante, diante das perspectivas de manutenção de um bom desempenho da atividade econômica.
Já se observa, contudo, uma ligeira elevação nas taxas de juros nos mercados futuros e uma redução nos prazos para aquisição de veículos. É prudente monitorar esses movimentos e evitar a proliferação de operações "subprime" (alto risco) no país -sobretudo envolvendo os aposentados no crédito consignado.


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