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CLÓVIS ROSSI
Os Alpes já não estão brancos
MUNIQUE - Como diria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tivesse ido a Davos neste ano, nunca nestas montanhas se viu tanto verde/marrom (de árvores e terra) e
tão pouco branco (da neve).
De fato, faz 19 janeiros consecutivos que vou à Suíça. Na primeira
vez, voltava da cobertura da Guerra
do Golfo (a primeira).
Entrei na loja da Ibéria em Zurique para refazer minha passagem
de retorno ao Brasil. A atendente
me avisou que era complicado e levaria tempo. Dei graças a Deus. Lá
fora, o frio rachava até os ossos. Lá
dentro, a calefação acariciava o corpo moído pelo desgaste que é sempre cobrir guerras.
Neste ano, mesmo em Davos, nos
picos alpinos, havia gente almoçando nas mesinhas na calçada do Hotel Europe, na Promenade, a única
avenida da cidadezinha de 13 mil
habitantes.
Na partida, domingo, fizemos
seis horas de trem de Davos a Munique, a maior parte do tempo com os
Alpes nos olhando das janelas. O
tempo todo, neve só mesmo nas
partes mais altas. No ano passado,
de Genebra, já havia escrito o texto
"Cadê a neve que estava aqui?", reclamando do calor que fazia em janeiro na deliciosa cidade às margens do lago Leman. Foi antes do
relatório científico sobre a mudança climática -aterrorizante, aliás.
Dizia, então, que me sentia como
uma espécie de enviado especial ao
aquecimento global. Não estou sozinho. Em Davos, Yoshinori Imai,
principal apresentador da NHK, a
rede japonesa de TV, também espantado com a temperatura, dizia:
"As pessoas já estão sentindo na pele o efeito da mudança climática".
Imai entende de neve e de frio
muito mais do que eu, porque no
Japão também neva.
O que me espanta é que essas evidências fisicamente perceptíveis
não comovam os governantes, os
empresários, o público em geral
(salvo as exceções de praxe) a agir
enquanto é tempo.
crossi@uol.com.br
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