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CLÓVIS ROSSI
O capitalista e o comunista
DAVOS - Pode-se acusar George
Soros de tudo ou de quase tudo, menos de não saber ganhar dinheiro.
Mesmo sabendo, é o único grande
capitalista que tem feito críticas sólidas ao capitalismo.
Sua análise sobre a presente crise
é irrebatível nesse aspecto. Começa
por dizer que a decantada eficiência
do mercado "foi desmentida", assim como foi desmentida a tese de
que os mercados, deixados por sua
conta, "tendem ao equilíbrio". Na
verdade, Soros usou o verbo "desproved", que, em português, seria
"não provado/a", mas fica esquisito, não é?
O megainvestidor lembra, de novo com toda a razão, que não foi um
"choque exógeno" que levou aos
"distúrbios" no sistema financeiro.
Ou seja, os "distúrbios" nasceram
no próprio sistema financeiro e
acabaram por levá-lo ao "colapso",
sempre na análise de Soros.
Ele se recusa a fazer previsões sobre o tamanho e o tempo de duração da recessão provocada pelos
"distúrbios" (ou "colapso", você escolhe). Diz que não é importante.
Ou que de fato importante seria reconstruir o sistema que entrou em
colapso, o que exige uma fantástica,
quase incalculável, injeção de dinheiro para capitalizar os bancos
em coma.
De onde virá o dinheiro? Óbvio:
de papai-Estado, o único que tem
recursos para fazê-lo, nem que seja
preciso imprimi-lo.
Soros também defende o que a
maioria de seus pares rejeita: a regulação do sistema financeiro. Não
que acredite na capacidade de o Estado fazer direito as coisas. Mas
"tem que fazê-lo, mesmo que tenda
ao erro, porque, se errar, o mercado
reage e permite corrigir o erro", que
no caso seria de calibragem da
regulação.
Prefiro Soros a um suposto comunista, o premiê chinês Wen Jiabao, que só ontem se lembrou de
que, ao reler os dois clássicos de
Adam Smith, encontrara apenas
uma única menção à justiça social.
crossi@uol.com.br
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