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Maturidade fiscal
Arrecadação maior deveria levar o governo
a diminuir impostos, aumentar investimento público e abater dívida
O SALTO nas receitas tributárias federais em
janeiro -que pelo visto também ocorreu
nas esferas estadual e municipal- foi responsável por um resultado atípico no balanço fiscal
do setor público. No mês passado, os governos arrecadaram
mais do que gastaram, incluídas
aí as despesas com juros.
O superávit primário -a sobra
de arrecadação depois que o governo liqüida todas as suas despesas não-financeiras- foi tamanho (6,9% do PIB), que se
produziu o chamado superávit
nominal. A poupança recorde
provocou um corte mais pronunciado na dívida pública, a
qual atingiu o equivalente a
42,1% do PIB, patamar mais baixo desde dezembro de 1998.
Seria precipitado tomar o que
ocorre em apenas um mês nas
contas públicas como padrão.
Mas o resultado de janeiro de
2008 justifica colocar sob observação uma variável-chave: o nível de arrecadação de impostos.
Estimar com alguma precisão o
seu comportamento daqui para a
frente será crucial para a tomada
de importantes decisões a respeito da política fiscal.
A Receita Federal atribuiu o
vultoso resultado de janeiro a
um desempenho excepcional da
economia no final do ano. As empresas aumentaram seu volume
de lucros, o que redundou em
mais tributos recolhidos.
Não há sinal, por ora, de mudança no ritmo da atividade econômica. O desemprego em janeiro, anunciou ontem o IBGE,
atingiu 8% da população economicamente ativa: patamar ainda
elevado, mas bem abaixo do índice de um ano antes (9,3%). Outros dados -como o do consumo
de eletricidade, que subiu 4,6%
no mês passado, sobre janeiro de
2007, na conta da Empresa de
Pesquisa Energética- corroboram a hipótese de que o aquecimento se mantém.
O Brasil não pode continuar
desperdiçando ciclos de crescimento econômico. Esses momentos facilitam bastante a correção de deficiências estruturais
das contas públicas, que podem
ser resumidas em três pontos: o
governo tributa demais, destina
muito pouco do dinheiro para investimentos públicos e gasta
uma enormidade com juros de
sua dívida. Mesmo num ano de
bonança como 2007, foram R$
160 bilhões, mais de 6% do PIB,
transferidos aos seus credores.
Se ocorrer de fato excesso de
arrecadação, advindo de um desempenho acima do previsto da
economia ou de outro fator qualquer, é preciso que a sociedade
pressione para que o governo
saia da inércia. Menos impostos,
menos gastos públicos correntes
e menos dívida pública.
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