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JOSÉ SARNEY
Ingrid e Gloria
POBRES MULHERES estas
-Gloria, Ingrid, Consuelo e
Clara-, cujos destinos foram
atravessados pela crueldade do terrorismo. Passaram anos na selva,
presas entre seus algozes, deixando um rastro de saudades e de
amarguras que vão desde a viuvez
no exílio aos maridos assassinados,
filhos seqüestrados e famílias com
o cotidiano das incertezas sobre a
vida, o estado de saúde e o tratamento dos guerrilheiros com os seqüestrados.
Inserir esses fatos como parte de
um estilo normal do jogo político é
atribuir valores a um simples exercício do terrorismo. É, no mínimo,
uma velada solidariedade com esse
modo de tortura.
Vejamos a história de Gloria Polanco, ontem solta. Foi seqüestrada com seus filhos. Os seqüestradores pediram resgate para soltar
os filhos, que estiveram dois anos
na selva em sua companhia. Ela
concorda em pedir ao marido para
pagar pela liberdade dos filhos. Estes foram soltos, mas outro preço
de sua liberdade foi a vida do seu
pai, assassinado pelos guerrilheiros. Ela agora é solta e traz na alma
os seis anos de solidão e maus-tratos, doenças e humilhações. Reencontra a liberdade e o espaço vazio
do esposo morto.
Infelicidade mais dolorosa e prolongada está reservada para Ingrid
Betancourt. Por ter dupla nacionalidade, é moeda de troca mais valiosa. A França, sua segunda terra,
entra no movimento de sua liberdade, e não se sabe se será para o
bem ou para o mal. Disso valem-se
os guerrilheiros para visibilidade
mundial, e a pobre Ingrid, francesa
e colombiana, sofre nas e pelas
duas pátrias. Seu retrato é a própria expressão da dor, esquálida,
lágrimas de olhos que já estão secos, olhar baixo e distante, como se
não restasse esperança. Agora, os
companheiros de infortúnio trazem a notícia de que seu corpo não
tem mais tempo de esperar a liberdade. Ele se despede de suas forças,
destruídas pela doença que lentamente lhe consome os dias.
"Ah! se tivéssemos nos homens o
coração de Cristo" -como dizia o
padre Antônio Vieira. Por todos os
meios, devemos manifestar nossa
condenação, nosso irrestrito repúdio à violência, que não pode ser
justificada por nada, muito menos
por confusas motivações ideológicas misturadas com cocaína. Qual a
ideologia e os ideais das Farc? A
violência pela violência.
Na próxima semana, comemoraremos o Dia Internacional da Mulher. Não precisamos buscar exemplos no passado para nossa solidariedade com elas. Basta o de Ingrid
Betancourt, a mater dolorosa que
não tem nem o menino no colo,
porque os filhos, que eram pequenos no início do seu cativeiro, hoje
são jovens adultos que choram, como todos nós, pelo destino de sua
mãe.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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