|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Na mosca
BRASÍLIA - Depois de cada eleição, é sempre a mesma coisa: os
partidos vitoriosos (e governistas)
incham, e os derrotados (e oposicionistas) murcham. FHC subiu a
rampa, e o PFL se fortaleceu. FHC
desceu, Lula subiu e o PFL se enfraqueceu a ponto de ter mudado de sigla ontem. Virou DEM. O poder
atrai, a falta de poder afasta.
Além dessa regra, ou "movimento natural", há também uma espécie de leilão entre os partidos, expondo os parlamentares a um verdadeiro "quem dá mais?" e alimentando assim todo o processo de corrupção parlamentar.
É por isso, pela facilidade em trocar de legenda e pelas "facilidades"
(não raro medidas em cifrões) oferecidas por alguns partidos, que uns
sujeitos se elegem pelo PFL, passam para o PP, dão uma voltinha
pelo PR e acabam no PTB, como se
fosse um passeio.
A decisão de anteontem do TSE,
portanto, provoca um sacolejo de
bom tamanho no Congresso Nacional, ao determinar a fidelidade partidária e automaticamente prever
uma pena para quem não cumpri-la: a perda de mandato.
Imagine você como estavam os
parlamentares e os partidos ontem.
O PR, que mais recebeu "adesões",
já chamava a decisão do TSE de "ditadura". O PFL, que perdeu sete deputados (fora um que morreu) e
provocou o posicionamento do
TSE, estava em estado de euforia.
Ou melhor: de revanche. E, no TSE,
o ministro Marco Aurélio Mello se
divertia. Ele foi o grande articulador da votação.
Agora, falta saber se o sujeito que
trocou de sigla vai querer voltar à
original e se o partido que perdeu o
sujeito vai aceitar o filho pródigo ou
brigar pela vaga. E vamos torcer para que a Câmara não salve a pele dos
atuais parlamentares. O TSE opinou sobre regras existentes, e a Câmara pode simplesmente criar uma
nova regra. Aí, adeus decisão do
TSE. Ou seja: adeus mais uma tentativa de moralização política.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A pergunta que falta a Lula Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tropa de choque Índice
|