São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O DNA da educação

HORACIO LAFER PIVA e FERNANDO DE ALMEIDA

Todos concordam que o problema da educação reside na formação insuficiente dos professores. Mas será isso mesmo?

HÁ ALGUNS poucos consensos entre os brasileiros quando o assunto é educação. Um deles é o de que o problema reside na formação insuficiente dos professores.
Afirma-se que a preparação inicial é fraca, tanto nos cursos de licenciatura quanto nos normais superiores ou até nas faculdades. A essa voz unânime soma-se, hoje em dia, a crítica de que falta formação em serviço, ou formação continuada -a aprendizagem ao longo da vida. Quando há tanta unanimidade, alguma coisa está errada.
Políticos de variadas tendências, meios de comunicação, comunidade de pais, todos concordam nesse ponto. Mas será isso mesmo?
Os professores se formam cada vez mais cedo. As salas de aula são cada vez maiores. As escolas, mais distantes, pois seguem o crescimento das cidades e as fronteiras do campo.
As exigências da interdisciplinaridade são cada vez mais complexas.
Tudo isso traz enormes cobranças para os professores. Não bastam, portanto, apenas mais formação por parte das faculdades e serviços com cursos a distância.
O problema é complexo, pois não se trata apenas de formá-los bem mas também de melhorar suas capacitações a cada dia. Para isso, temos que ter reuniões pedagógicas mais eficazes, planejamentos de curso sistemáticos, ligações mais intensas com a comunidade, uma legislação de financiamento da educação, projetos municipais, sistema de avaliação, assim como planos de carreira, boa gestão, bibliotecas e equipamentos, ou seja, o cenário em que a formação acontece e se viabiliza concretamente.
Para discutir as questões de fundo das políticas que articulam tais gargalos, um grupo de parlamentares se reuniu em Salvador, num encontro fechado, para ouvir e discutir com especialistas os fundamentos e as questões que devem ser enfrentadas.
O debate foi marcado por uma visão controversa sobre o tema, de forma a favorecer um diálogo não marcado por vieses ideológicos, na certeza de que da discussão e das posições antagônicas nascem a evolução do pensamento e a grandeza das soluções.
O Instituto DNA Brasil promoveu esse encontro como parte de um programa oferecido aos parlamentares brasileiros -a exemplo do que já acontece na Alemanha, com o apoio do Instituto Konrad Adenauer, e nos Estados Unidos, com o Instituto Aspen-, dissecando, nessa primeira versão, a educação, e não apenas no Brasil mas também no mundo.
Educação fundamental, ensino médio, avaliação e reforma universitária brasileira, à luz da européia, concretizada no Tratado de Bolonha, aliado a alguns estudos sobre países como Chile, Espanha, Coréia e Irlanda, que enfrentaram problemas similares aos do Brasil, foram a base de sustentação dos painéis e dos grupos de estudo.
O encontro não tinha a finalidade de ser presunçosamente conclusivo, mas, sim, formativo. De abrir princípios que fugissem do senso comum e da eterna recorrência sobre como os professores precisam ser preparados, da afirmação de que os alunos sempre estão desmotivados, dos currículos tortuosos, da universidade que "absorve" a maioria dos recursos disponíveis, da falta de investimento, da culpa por uma má escola ser conseqüência da invasão de gestores sem cultura e sem interesses.
Respeitados os princípios políticos e os fundamentos teóricos das diversas posições, partimos para estressar dissensos e buscar consensos, num clima colaborativo que provou a importância de debates fechados e compromissados como esses, que nos preparamos para repetir com outros temas.
Ao final, conclusões, sim. Num documento, agora em formato de livro, lançado no bom momento em que o ministro Fernando Haddad apresenta seu fundamentado projeto à nação, os especialistas elencaram princípios a serem garantidos para uma educação de qualidade. Questões que passam por plano nacional de educação, recursos subvinculados, políticas educacionais, custos, ofertas e demandas estão incluídas como uma contribuição do instituto e seus patrocinadores para o que imaginamos ser um caminho fundamental para o alcance do destino deste país.
Além das propostas, a reafirmação da certeza de que não apenas pela educação, mas jamais sem ela, avançaremos. Melhor, conclusão esta compartilhada entre as forças vivas da sociedade e, especialmente, dos representantes da nossa jovem democracia, homens que articulam as leis e as assinam e nos ajudam a cumprir as ordens do progresso e do futuro do Brasil.


HORACIO LAFER PIVA, 49, empresário, é presidente do Instituto DNA Brasil e da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel) e ex-presidente da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
FERNANDO DE ALMEIDA, 63, professor doutor em filosofia da educação pela PUC-SP, é conselheiro do Instituto DNA Brasil.


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