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TENDÊNCIAS/DEBATES
O DNA da educação
HORACIO LAFER PIVA e FERNANDO DE ALMEIDA
Todos concordam que o problema da educação reside na formação insuficiente dos professores. Mas será isso mesmo?
HÁ ALGUNS poucos consensos
entre os brasileiros quando o
assunto é educação. Um deles
é o de que o problema reside na formação insuficiente dos professores.
Afirma-se que a preparação inicial é
fraca, tanto nos cursos de licenciatura
quanto nos normais superiores ou até
nas faculdades. A essa voz unânime
soma-se, hoje em dia, a crítica de que
falta formação em serviço, ou formação continuada -a aprendizagem ao
longo da vida. Quando há tanta unanimidade, alguma coisa está errada.
Políticos de variadas tendências,
meios de comunicação, comunidade
de pais, todos concordam nesse ponto. Mas será isso mesmo?
Os professores se formam cada vez
mais cedo. As salas de aula são cada
vez maiores. As escolas, mais distantes, pois seguem o crescimento das cidades e as fronteiras do campo.
As
exigências da interdisciplinaridade
são cada vez mais complexas.
Tudo isso traz enormes cobranças
para os professores. Não bastam, portanto, apenas mais formação por parte das faculdades e serviços com cursos a distância.
O problema é complexo, pois não se
trata apenas de formá-los bem mas
também de melhorar suas capacitações a cada dia. Para isso, temos que
ter reuniões pedagógicas mais eficazes, planejamentos de curso sistemáticos, ligações mais intensas com a comunidade, uma legislação de financiamento da educação, projetos municipais, sistema de avaliação, assim
como planos de carreira, boa gestão,
bibliotecas e equipamentos, ou seja, o
cenário em que a formação acontece e
se viabiliza concretamente.
Para discutir as questões de fundo
das políticas que articulam tais gargalos, um grupo de parlamentares se
reuniu em Salvador, num encontro
fechado, para ouvir e discutir com especialistas os fundamentos e as questões que devem ser enfrentadas.
O debate foi marcado por uma visão
controversa sobre o tema, de forma a
favorecer um diálogo não marcado
por vieses ideológicos, na certeza de
que da discussão e das posições antagônicas nascem a evolução do pensamento e a grandeza das soluções.
O Instituto DNA Brasil promoveu
esse encontro como parte de um programa oferecido aos parlamentares
brasileiros -a exemplo do que já
acontece na Alemanha, com o apoio
do Instituto Konrad Adenauer, e nos
Estados Unidos, com o Instituto Aspen-, dissecando, nessa primeira
versão, a educação, e não apenas no
Brasil mas também no mundo.
Educação fundamental, ensino médio, avaliação e reforma universitária
brasileira, à luz da européia, concretizada no Tratado de Bolonha, aliado a
alguns estudos sobre países como
Chile, Espanha, Coréia e Irlanda, que
enfrentaram problemas similares aos
do Brasil, foram a base de sustentação
dos painéis e dos grupos de estudo.
O encontro não tinha a finalidade
de ser presunçosamente conclusivo,
mas, sim, formativo. De abrir princípios que fugissem do senso comum e
da eterna recorrência sobre como os
professores precisam ser preparados,
da afirmação de que os alunos sempre
estão desmotivados, dos currículos
tortuosos, da universidade que "absorve" a maioria dos recursos disponíveis, da falta de investimento, da
culpa por uma má escola ser conseqüência da invasão de gestores sem
cultura e sem interesses.
Respeitados os princípios políticos
e os fundamentos teóricos das diversas posições, partimos para estressar
dissensos e buscar consensos, num
clima colaborativo que provou a importância de debates fechados e compromissados como esses, que nos
preparamos para repetir com outros
temas.
Ao final, conclusões, sim. Num documento, agora em formato de livro,
lançado no bom momento em que o
ministro Fernando Haddad apresenta seu fundamentado projeto à nação,
os especialistas elencaram princípios
a serem garantidos para uma educação de qualidade. Questões que passam por plano nacional de educação,
recursos subvinculados, políticas
educacionais, custos, ofertas e demandas estão incluídas como uma
contribuição do instituto e seus patrocinadores para o que imaginamos
ser um caminho fundamental para o
alcance do destino deste país.
Além das propostas, a reafirmação
da certeza de que não apenas pela
educação, mas jamais sem ela, avançaremos. Melhor, conclusão esta
compartilhada entre as forças vivas
da sociedade e, especialmente, dos representantes da nossa jovem democracia, homens que articulam as leis e
as assinam e nos ajudam a cumprir as
ordens do progresso e do futuro do
Brasil.
HORACIO LAFER PIVA, 49, empresário, é presidente do
Instituto DNA Brasil e da Bracelpa (Associação Brasileira
de Celulose e Papel) e ex-presidente da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
FERNANDO DE ALMEIDA, 63, professor doutor em filosofia da educação pela PUC-SP, é conselheiro do Instituto DNA Brasil.
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