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CLOVIS ROSSI
Carícias no pântano
SÃO PAULO - Por mero instinto
-um péssimo instrumento para
jornalistas, admito-, acho que a
ministra Dilma Rousseff não tem
culpa direta no dossiê sobre os gastos do governo Fernando Henrique
Cardoso. Não parece ter déficit de
caráter a ponto de tomar a iniciativa de telefonar para Ruth Cardoso
para negar a existência do dossiê se
de fato o tivesse pedido.
Fica portanto a impressão de que
Dilma foi enganada pela sua principal assessora, Erenice Alves Guerra, que reportagem desta Folha
apontou como a autora do dossiê.
Não adianta agora o pessoal do governo, em coro, negar que se trate
de dossiê. Os dados revelados -e
não desmentidos- compõem o típico dossiê. Ou "crime", para lembrar definição da própria Dilma.
Voltando, então, à culpa da ministra. O problema com ela e com
todo o Palácio do Planalto, principalmente o seu principal ocupante,
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, é o de terem permitido a criação de um ambiente turvo, embaçado, no qual, fatalmente, prosperam tais tipos de "crimes".
Nem é preciso recorrer à oposição para encontrar caracterizações
tremendas para os "crimes". Frei
Betto, amigo pessoal da família Da
Silva, ex-assessor especial, chamou
de "tumor fétido" o que houve na
crise do mensalão. Ciro Gomes, ex-ministro de Lula, disse, mais recentemente, que ele (como Fernando
Henrique Cardoso, aliás) aliou-se à
"escória".
E o segundo homem na hierarquia do PT, o deputado José Eduardo Cardozo, secretário-geral do
partido, disse o seguinte, também
sobre o mensalão: "Teve pagamento ilegal de recursos para políticos
aliados? Teve. Ponto final. É ilegal?
É. É indiscutível? É. Não podemos
esconder esse fato da sociedade".
Lula, no entanto, acaricia sempre
"mensaleiros", "aloprados" e até
Severino Cavalcanti. É óbvio que,
no Palácio, todos se sentem estimulados a novos "crimes".
crossi@uol.com.br
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