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RUY CASTRO
Memórias do 3D
RIO DE JANEIRO - Devo ser o
único brasileiro vivo que não viu
nem pretende ver "Avatar" (não
gosto de filmes com gente pintada
de azul). Em compensação, quando
se anunciou que, por causa dele, o
3D vinha agora para ficar, duvidei
que alguém neste país tivesse uma
coleção de óculos do gênero, com
uma lente azul (ou verde), outra
vermelha, igual à minha.
Nada menos que cinco óculos,
dos quais três de época, sobreviventes dos anos 50, quando se tentou
implantar pela primeira vez o 3D.
Um deles, a joia da coleção, é o que
acompanhava uma edição de "Mindinho" em 3D, de 1955, estrelando
não Pernalonga, herói habitual do
gibi, mas os Três Patetas. Outro
veio num "Superman" especial do
mesmo ano. E não sei que fim levou
o que me permitia seguir as aventuras de Thor, o homem das cavernas,
no "Almanaque da Vida Juvenil",
também de 1955.
Sim, vários dos nossos heróis foram servidos em 3D naquele tempo. Mas o processo só tinha graça
nas primeiras vezes, em que se aplicavam os óculos sobre a página fora
de registro e vinha aquela sensação
de profundidade. Logo o interesse
se dissipava, a coisa perdia a graça e
os óculos se tornavam um estorvo.
O jeito era abandonar o 3D, o que
nós, os meninos de 1955, fizemos
em massa e, com isso, voltamos ao
querido 2D.
No cinema, a moda durou menos
ainda. Depois de duas ou três idas
ao Cineac para ver curtas com girafas esticando o pescoço ou tigres
saltando sobre a plateia, não havia
mais a que assistir. Filmes como
"Disque M para Matar", de Hitchcock, o glorioso musical "Dá-me um
Beijo" e o ótimo "Museu de Cera",
rodados originalmente em 3D, só
foram exibidos em tela plana -o
processo já se extinguira nos EUA
quando eles ficaram prontos.
Em 1956, o 3D já estava mais fora
de moda que a piorra e o bilboquê.
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