São Paulo, terça, 29 de abril de 1997.

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Missão cumprida


Enfrentamos também interesses de segmentos que se sentem ameaçados pela privatização da Vale
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Mesmo diante da batalha judicial em torno do leilão de venda do controle da Companhia Vale do Rio Doce, sinto-me confortado e satisfeito com o trabalho que, por delegação governamental, estamos realizando para que o processo seja concluído com êxito. Êxito para o país, para o governo, para os cidadãos e para a própria Vale.
É o coroamento de quase dois anos de uma faina complexa, por vezes penosa, que exigiu, das equipes técnicas e dos executivos do BNDES -com a inestimável colaboração da própria CVRD-, o melhor dos esforços para chegar ao modelo de venda mais adequado para os interesses nacionais. E que assegurasse uma privatização vantajosa para o país e fosse uma garantia de preservação, crescimento e modernização da Vale.
Nesses dois anos de trabalho, empenhei-me em que o processo fosse submetido ao mais amplo debate nacional. Numerosas vezes, fomos -eu e executivos e técnicos do BNDES, assim como o ministro do Planejamento, Antonio Kandir- ao Congresso Nacional, a entidades de classe, a assembléias legislativas, à imprensa, a empresas, a escolas para discutir a questão de modo franco e aberto, manifestando sempre respeito às opiniões eventualmente contrárias. Esse extenso debate foi proveitoso: sugestões nele colhidas, principalmente no Congresso, foram incorporadas ao processo e o aprimoraram.
Não foi uma jornada só de flores. Em alguns momentos, houve muitos espinhos. Em março último, por exemplo, fui convidado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais para um debate. Com insultos e baderna, um pequeno grupo de radicais, brandindo os seus dogmas e escudando-se na armadura do seu sectarismo, impediu-me de falar, acuando a maioria que ali estava para ouvir e debater.
Enfrentamos também uma grande massa de interesses de segmentos que se sentem ameaçados pela privatização. Em outras ocasiões, houve manifestações e pronunciamentos de algumas pessoas desqualificadas para discutir tecnicamente o assunto. Foi o caso, por exemplo, das acusações primárias do grupo liderado pelo sr. Pinguelli Rosa, as quais desceram ao nível da calúnia contra uma instituição como o BNDES. Aliás, pela infâmia que praticou, esse grupo responderá na Justiça.
Mas em momento algum esmoreci. Estou consciente de que esses espinhos são compensados pela certeza de que o processo de venda da Vale está sendo executado com transparência, correção e probidade; e de que estamos, assim, mantendo a tradição de lisura que, desde 1991, é uma marca do Programa Nacional de Desestatização.
Houve, porém -e em muito maior número que os espinhos-, flores. E recompensas. A aprovação da sociedade brasileira à privatização da Vale, comprovada em pesquisas que realizamos em todo o país e, em particular, nos Estados em que a empresa atua. A confiança -que, aliás, nunca faltou- do presidente Fernando Henrique Cardoso e do ministro Antonio Kandir em nosso trabalho. O reconhecimento da imprensa, de instituições e de empresas, do Brasil e do exterior, à retidão e à competência técnica com que o BNDES está conduzindo mais esta privatização.
Quero prestar um tributo ao Congresso, especialmente ao Senado, pelo apoio inconteste dado ao Programa de Desestatização. O PND é uma política nacional, estabelecida em lei e aprovada pelo Congresso. Em dezembro último, aliás, o plenário do Senado reafirmou de modo insofismável seu apoio ao PND ao rejeitar, por meio de votação nominal, o projeto de lei do senador José Dutra, do PT de Sergipe, que propunha a exclusão da Vale do programa. Após ter sido debatido por vários meses, o projeto foi derrotado em plenário. Eu mesmo, convocado pelo Senado, lá estive duas vezes para participar desses debates.
Outro reconfortante incentivo, que nos dá a certeza de estarmos no caminho certo, é o que recebemos dos próprios empregados da Vale. Todos os empregados e (até agora) mais de 80% dos aposentados inscreveram-se para comprar os 5,11% do capital da empresas a eles reservados. Essa é uma demonstração decisiva de confiança na Vale privatizada, porque vem dos que conhecem a empresa por dentro e dela tiram o seu sustento. Eles estão realmente interessados no futuro da Vale -porque são parte dela. Com a adesão a seu clube de investimento, vão tornar-se, além de empregados, sócios.
Por tudo isso, chegamos à reta final desta privatização com a satisfação do dever cumprido e com a certeza de que a transferência do controle acionário da Vale ao setor privado será benéfica para a Vale, para os cidadãos, para o governo e para o Brasil.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 54, economista e engenheiro, é presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

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