São Paulo, sábado, 29 de abril de 2006

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Dignidade, trabalho e censura

No dia 1º de maio, a atenção e o afeto se voltam especialmente para os trabalhadores e trabalhadoras, no anseio de que sua dignidade seja respeitada e promovida.
A CNBB acaba de publicar mensagem para o dia do trabalhador, saudando todos os que se empenham na construção do Brasil, "rogando a Deus para que cessem as discriminações e injustiças ligadas ao mundo do trabalho e para que o povo brasileiro desfrute da verdadeira justiça, solidariedade e paz social".
O documento é breve e coloca em evidência considerações básicas.
Há uma palavra inicial de esperança, constatando as iniciativas para oferecer novas oportunidades de trabalho e o reajuste, embora insuficiente, do salário mínimo acima da inflação. Motivo ainda de esperança são as experiências de economia solidária.
Enumera, a seguir, motivos de justas preocupações -em primeiro lugar, o desemprego, que aflige especialmente os jovens. Por que não aumentam as oportunidades de trabalho enquanto cresce a geração de riquezas?
Aponta para a questão mais profunda do atual modelo econômico neoliberal, que privilegia o lucro, concentra a renda e exclui, cada vez mais, os trabalhadores.
Recorda os ensinamentos da Igreja e as palavras do Papa João Paulo 2º, insistindo na centralidade do trabalho como "chave da questão social". É preciso harmonizar o crescimento econômico com exigências de respeito e de promoção da dignidade da pessoa.
Para alcançar essa meta, é indispensável a atuação no âmbito da política. A mensagem alude ao ano eleitoral, propondo como prioridade para os programas de candidatos o desafio de assegurar, como exigência da cidadania, o direito ao trabalho, o justo salário e a distribuição da renda.
A essa vigorosa afirmação da CNBB sobre a dignidade da pessoa à luz dos valores do Evangelho, sinto o dever de associar uma palavra sobre recente exposição erótica no CCBB do Rio de Janeiro, que agrediu a fé e ofendeu as convicções religiosas do nosso povo, apresentando imagens indignas e injuriosas que atentam contra o respeito devido à Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa.
Por que essa agressão descabida?
A liberdade de expressão artística não é um valor absoluto, pois a ninguém é lícito ofender e injuriar o próximo e a fé de milhões de católicos. Temos de aprender a conhecer os próprios direitos e deveres, a começar pelo exercício da autocrítica, que precede toda censura externa. Incumbe, no entanto, ao Estado, quando falha a autocensura, zelar para que não se agridam os valores éticos, sociais e religiosos das pessoas e da família. Pretensos valores estéticos não podem ferir direitos alheios nem subsistir sem o necessário respeito aos valores morais.
A referência maior é a dignidade da pessoa, a ser sempre salvaguardada, tanto no direito ao trabalho como no respeito pleno às convicções religiosas de cada um.
O início do mês de maio, dedicado à Nossa Senhora e à festa de São José Operário, há de inspirar em nós o amor fraterno e a coerência em promover vida digna para todos.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

@ - almendescuria@yahoo.com.br


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