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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Dignidade, trabalho e censura
No dia 1º de maio, a atenção e o
afeto se voltam especialmente
para os trabalhadores e trabalhadoras,
no anseio de que sua dignidade seja
respeitada e promovida.
A CNBB acaba de publicar mensagem para o dia do trabalhador, saudando todos os que se empenham na
construção do Brasil, "rogando a Deus
para que cessem as discriminações e
injustiças ligadas ao mundo do trabalho e para que o povo brasileiro desfrute da verdadeira justiça, solidariedade e paz social".
O documento é breve e coloca em
evidência considerações básicas.
Há uma palavra inicial de esperança,
constatando as iniciativas para oferecer novas oportunidades de trabalho e
o reajuste, embora insuficiente, do salário mínimo acima da inflação. Motivo ainda de esperança são as experiências de economia solidária.
Enumera, a seguir, motivos de justas
preocupações -em primeiro lugar, o
desemprego, que aflige especialmente
os jovens. Por que não aumentam as
oportunidades de trabalho enquanto
cresce a geração de riquezas?
Aponta para a questão mais profunda do atual modelo econômico neoliberal, que privilegia o lucro, concentra
a renda e exclui, cada vez mais, os trabalhadores.
Recorda os ensinamentos da Igreja e
as palavras do Papa João Paulo 2º, insistindo na centralidade do trabalho
como "chave da questão social". É
preciso harmonizar o crescimento
econômico com exigências de respeito e de promoção da dignidade da pessoa.
Para alcançar essa meta, é indispensável a atuação no âmbito da política.
A mensagem alude ao ano eleitoral,
propondo como prioridade para os
programas de candidatos o desafio de
assegurar, como exigência da cidadania, o direito ao trabalho, o justo salário e a distribuição da renda.
A essa vigorosa afirmação da CNBB
sobre a dignidade da pessoa à luz dos
valores do Evangelho, sinto o dever de
associar uma palavra sobre recente
exposição erótica no CCBB do Rio de
Janeiro, que agrediu a fé e ofendeu as
convicções religiosas do nosso povo,
apresentando imagens indignas e injuriosas que atentam contra o respeito
devido à Nossa Senhora, Mãe de Deus
e nossa.
Por que essa agressão descabida?
A liberdade de expressão artística
não é um valor absoluto, pois a ninguém é lícito ofender e injuriar o próximo e a fé de milhões de católicos. Temos de aprender a conhecer os próprios direitos e deveres, a começar pelo exercício da autocrítica, que precede toda censura externa. Incumbe, no
entanto, ao Estado, quando falha a autocensura, zelar para que não se agridam os valores éticos, sociais e religiosos das pessoas e da família. Pretensos
valores estéticos não podem ferir direitos alheios nem subsistir sem o necessário respeito aos valores morais.
A referência maior é a dignidade da
pessoa, a ser sempre salvaguardada,
tanto no direito ao trabalho como no
respeito pleno às convicções religiosas
de cada um.
O início do mês de maio, dedicado à
Nossa Senhora e à festa de São José
Operário, há de inspirar em nós o
amor fraterno e a coerência em promover vida digna para todos.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
@ - almendescuria@yahoo.com.br
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