São Paulo, sábado, 29 de abril de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Mercado & nação

RIO DE JANEIRO - A globalização neoliberal está substituindo o conceito de nação pela realidade do mercado. Pode-se argumentar que os Estados Unidos ainda conservam alguns atributos de nação, mas sendo, como são, a referência principal do mundo globalizado, o mercado mundial aos poucos vem-se transformando na verdadeira nação norte-americana. Daí que ela luta por seus interesses mercadológicos em qualquer parte do mundo.
Seus limites territoriais e morais são elásticos e se ampliam, envolvendo todo o "mercado", que, pouco a pouco, se funde com a nação.
Foi assim no 11 de Setembro, quando o governo ajudou compactamente o mercado -no caso, o mercado do transporte aéreo. Para evitar o colapso das companhias traumatizadas pelo ataque às torres do WTC, as burras da nação foram abertas para intervir no mercado. Aos poucos, com a situação tendendo a se normalizar, as leis do mercado estão voltando ao leito natural de uma economia que pretende ser não-estatizada.
Faço as considerações acima para lembrar que o caso da Varig é mais um problema estatal do que de mercado. Certamente houve erros e até mesmo tramóias nas operações da cúpula da companhia, erros que poderão ser corrigidos e tramóias que deverão ser punidas.
A emergência não pode ser atendida pelas leis do mercado -os problemas são tais e tantos que não há como escapar de uma concordata ou falência. Mas o Estado, que representa a nação, e não o mercado, pode e deve intervir para tirar do sufoco um bem que, embora da iniciativa privada, presta um tipo de serviço público que, por algum tempo ainda, não pode ser encampado pelas concorrentes.
Foi lembrada a estatização, considerada anacrônica nos tempos atuais. Contudo, para quebrar o galho por tempo determinado e curto, seria uma solução que atenderia o mercado e não dilapidaria a nação, como certas intervenções em outros setores que não trazem vantagem nem para o mercado nem para a própria nação.


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