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CARLOS HEITOR CONY
Mercado & nação
RIO DE JANEIRO - A globalização neoliberal está substituindo o conceito de nação pela realidade do mercado. Pode-se argumentar que os Estados Unidos ainda conservam alguns
atributos de nação, mas sendo, como
são, a referência principal do mundo
globalizado, o mercado mundial aos
poucos vem-se transformando na
verdadeira nação norte-americana.
Daí que ela luta por seus interesses
mercadológicos em qualquer parte
do mundo.
Seus limites territoriais e morais
são elásticos e se ampliam, envolvendo todo o "mercado", que, pouco a
pouco, se funde com a nação.
Foi assim no 11 de Setembro, quando o governo ajudou compactamente
o mercado -no caso, o mercado do
transporte aéreo. Para evitar o colapso das companhias traumatizadas
pelo ataque às torres do WTC, as burras da nação foram abertas para intervir no mercado. Aos poucos, com a
situação tendendo a se normalizar,
as leis do mercado estão voltando ao
leito natural de uma economia que
pretende ser não-estatizada.
Faço as considerações acima para
lembrar que o caso da Varig é mais
um problema estatal do que de mercado. Certamente houve erros e até
mesmo tramóias nas operações da
cúpula da companhia, erros que poderão ser corrigidos e tramóias que
deverão ser punidas.
A emergência não pode ser atendida pelas leis do mercado -os problemas são tais e tantos que não há como escapar de uma concordata ou
falência. Mas o Estado, que representa a nação, e não o mercado, pode e
deve intervir para tirar do sufoco um
bem que, embora da iniciativa privada, presta um tipo de serviço público
que, por algum tempo ainda, não pode ser encampado pelas concorrentes.
Foi lembrada a estatização, considerada anacrônica nos tempos
atuais. Contudo, para quebrar o galho por tempo determinado e curto,
seria uma solução que atenderia o
mercado e não dilapidaria a nação,
como certas intervenções em outros
setores que não trazem vantagem
nem para o mercado nem para a própria nação.
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