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O alto preço do etanol
A IMAGEM de modernidade e
inovação que o Brasil projetou internacionalmente
em razão do uso combustível do
etanol é incompatível com as
condições desumanas a que são
submetidos de modo geral os
cortadores de cana, que têm uma
vida útil de trabalho comparável
à dos escravos, como indica pesquisa da Unesp divulgada hoje
pela Folha.
Segundo o estudo, a pressão
pelo aumento da produtividade
reduziu de 15 para 12 anos o período em que um cortador de cana é capaz de desenvolver sua
atividade. Esse lapso de tempo é
semelhante ao registrado entre
os escravos que trabalhavam na
agricultura no Brasil antes de
1850, quando o tráfico de pessoas da África foi proibido.
A professora Maria Aparecida
de Moraes Silva, responsável pela pesquisa, estima que os cortadores de cana andem de oito a
nove quilômetros por dia, colhendo até 15 toneladas do produto -o Ministério do Trabalho
recomenda o limite diário de 10
toneladas. Em decorrência das
más condições a que são submetidos, pelo menos 19 mortes de
trabalhadores do setor foram registradas desde 2004.
A projeção brasileira no desenvolvimento de combustíveis alternativos não pode ser obtida
com a "dilapidação" da vida dos
cortadores de cana, para usar o
termo adotado pela pesquisadora. Preocupadas com a repercussão das mortes, usinas produtoras de álcool começam a rever o
método de contratação dos cortadores de cana, que normalmente são terceirizados.
Os empresários que recebem
os crescentes lucros da atividade
têm a responsabilidade de zelar
pelas condições de trabalho de
seus empregados -sejam eles
contratados direta ou indiretamente. Do contrário, o Brasil
continuará a ser o país dos lamentáveis contrastes, produzindo o combustível do século 21
com base em estatísticas sociais
do século 19.
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