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MARCOS NOBRE
Gincana de arraial
OS DOIS PARTIDOS que polarizam a política brasileira,
PT e PSDB, são dirigidos
desde São Paulo. Os últimos acontecimentos mostram que a briga
para manter essa liderança já virou
mesmo disputa de bairro.
O PT não tem uma candidatura
forte para 2010, muito menos uma
candidatura paulista viável. Essa
perspectiva ameaça não apenas
sua liderança do bloco governista,
mas a hegemonia histórica de São
Paulo dentro do próprio PT.
Não tendo mais Lula como candidato, a direção paulista do PT
aposta na divisão para manter pelo
menos o controle do partido. Em
Belo Horizonte, melou a aliança
entre Fernando Pimentel e Aécio
Neves. A idéia de enfraquecer Pimentel e de abrir espaço para Patrus Ananias e Luiz Dulci serve para manter dividido o PT mineiro, o
que hoje é o mesmo que não fortalecer Aécio.
Nisso fecha com José Serra, que
fez a outra metade do serviço. Serra conseguiu implantar o novo PFL
em São Paulo e colocou Orestes
Quércia de volta ao jogo.
Em resposta às articulações de
Aécio, Serra isolou Geraldo Alckmin, momentaneamente forçado a
uma aliança com o mineiro dentro
do PSDB. De quebra, o acordo com
Quércia colocou um obstáculo importante a uma possível transferência de Aécio para o PMDB.
Foi aliás Quércia quem expressou de maneira mais clara a frente
ampla do bairro paulista. Ao sacramentar a aliança com Gilberto
Kassab, declarou que "analisaria o
apoio de todo o PMDB a Serra. Seria a primeira vez, depois de cento e
tantos anos, que São Paulo elege
um presidente. O último presidente que nasceu em São Paulo, paulista, foi Rodrigues Alves, se não me
engano".
O eventual engano não está no
bairro de origem do presidente,
mas na lógica de paróquia que guia
as articulações políticas. Porque o
bairrismo político está hoje por toda parte.
A frente ampla do bairro mineiro
em torno de Aécio existe há já algum tempo, sem ter demonstrado
até agora qualquer consistência
política ou ideológica visível. O que
Aécio conseguiu foi canalizar a insatisfação geral dos políticos contra São Paulo, que vem já desde pelo menos o governo Collor. A novidade é que esse fenômeno, antes de
superfície, passou agora de fato a
determinar de maneira profunda a
movimentação política.
Quando a política se reduz a uma
competição entre bairros, a mediocridade já ganhou, seja qual for o
resultado. A última disputa realmente relevante da política brasileira se deu em torno da CPMF.
Depois disso, só mesquinharia. Dá
medo pensar que essa gincana de
arraial talvez não seja o nível mais
baixo a que se pode chegar.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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