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FERNANDO RODRIGUES
Quando um recuo é só um recuo
BRASÍLIA - O Congresso decidiu
acabar com as passagens aéreas para parentes e amigos de deputados e
senadores e proibiu viagens ao exterior a passeio. Também prometeu
divulgar o uso de bilhetes de todos
de forma aberta, na internet.
Ao mesmo tempo, os presidentes
da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney, estão perdoando
a farra de passagens aéreas e outros
desvios cometidos até o momento.
Temer disse: "Nunca houve farra, o
sistema anterior autorizava o crédito". Não é bem assim. A regra era
omissa. O que nunca houve -como
manda o direito público- era uma
autorização explícita para congressistas passearem em Miami.
A rigor, a decisão sobre passagens
aéreas afeta pouco os membros do
Congresso. Primeiro, porque havia
um excedente de bilhetes nunca
usados -e até vendidos por alguns
no mercado. Segundo, porque eles
continuarão a acumular milhagem
ao voar com o dinheiro público. Terão créditos suficientes nas companhias para poderem ir ao exterior
de graça com as famílias no período
de férias.
A decisão está sendo vendida como um "pacote moralizador". Na
realidade, moralização não houve.
Encontrou-se apenas uma maneira
engenhosa para todos continuarem
a viajar como sempre.
O único aspecto positivo é a promessa de transparência com as passagens. Mas já foi feito um anúncio
semelhante em fevereiro sobre verbas indenizatórias. Até agora, pouco apareceu. Uma regra obscura
permite a deputados prestarem
contas de uma vez só em dezembro
de 2010.
Ontem, Michel Temer comentou
o vaivém do atual processo: "Muitas
vezes, você recua para avançar". Pode ser. Lênin teorizou a respeito.
Mas perdoar delitos do passado e
cortar quase nada dos benefícios futuros é só isso mesmo. Um recuo.
frodriguesbsb@uol.com.br
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