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Atentado no Paraguai
Senador ferido atuava no combate ao narcotráfico; a internacionalização do crime exige uma atuação coordenada das polícias
AINDA NÃO foram plenamente esclarecidas as
circunstâncias do ataque desferido contra o
senador Robert Acevedo na tarde da última segunda-feira, em
Pedro Juan Caballero, fronteira
com Mato Grosso do Sul. Criminosos dispararam mais de 30 vezes contra o carro do político paraguaio. O motorista e um guarda-costas morreram, mas Acevedo, mesmo atingido no braço e
na cabeça, conseguiu escapar.
Dois brasileiros foram presos
em seguida, no país vizinho. Os
investigadores paraguaios afirmam que os suspeitos são integrantes do autodenominado
PCC, embora especialistas questionem a hipótese de a facção criminosa paulista ter participado
diretamente do atentado.
É razoável supor, no entanto,
que narcotraficantes paraguaios
e brasileiros tenham interesse na
morte do senador. Ex-governador do departamento de Amambay, por onde passa parte significativa da maconha e da cocaína
consumidas no Brasil, ele realizou trabalho conjunto com as
forças de segurança e o Judiciário dos dois países no combate ao
comércio ilegal de drogas.
É comum ouvir de Acevedo
críticas às instituições de seu
país. À Folha, o senador já disse
que o Paraguai é um "paraíso"
para narcotraficantes. "Aqui
compram habeas corpus [...], juízes, policiais e fiscais."
Os problemas que afligem o
país vizinho, no entanto, não podem ser vistos fora da lógica internacional de produção, refino
e consumo de drogas.
Traficantes de países sul-americanos mantêm contatos e negócios. Parte da cocaína produzida na Bolívia, por exemplo, chega ao Brasil depois de passar pelo Paraguai, onde muitos criminosos brasileiros atuam.
A única resposta possível para
a internacionalização do crime é
a cooperação entre as polícias da
região, o que já vem acontecendo. Mas sua ação seria muito menos eficaz sem a atuação conjunta da DEA (Drug Enforcement
Administration), a agência antidrogas dos EUA. Os norte-americanos fazem acordos com as
polícias locais, destinam verbas,
realizam trabalho de inteligência e repassam informações para
policiais sul-americanos.
Foi com o apoio da agência que
a Polícia Federal brasileira conseguiu prender, há duas semanas, Nestor Ramon, acusado de
ser um dos maiores traficantes
da Colômbia.
Por outro lado, agentes da
DEA foram expulsos da Bolívia
em 2008. Desde então aumentaram a área de cultivo da coca
-em 6%, segundo a ONU- e a
apreensão de drogas do lado da
fronteira brasileira com o país.
A PF e o Itamaraty, que anunciam a intenção de ajudar os bolivianos no combate aos entorpecentes, fizeram críticas nesta
semana a parte da estratégia antidrogas dos EUA na região, durante conferência sobre o tema
no Rio. Em artigo para esta Folha, o diretor-geral da PF, Luiz
Fernando Corrêa, condenou o
conceito de "guerra às drogas",
que segundo ele termina por vitimar países e regiões inteiras.
É legítimo criticar excessos
militaristas e exigir respeito à soberania dos países sul-americanos. É necessário articular as forças de segurança da região para
vigiar melhor as fronteiras, barrar o tráfico e prender criminosos. Mas é imperativo tomar os
cuidados necessários de modo a
não alienar um apoio técnico e financeiro decisivo para que atentados como o realizado nesta semana no Paraguai não se tornem
mais frequentes.
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