São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010

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Atentado no Paraguai

Senador ferido atuava no combate ao narcotráfico; a internacionalização do crime exige uma atuação coordenada das polícias

AINDA NÃO foram plenamente esclarecidas as circunstâncias do ataque desferido contra o senador Robert Acevedo na tarde da última segunda-feira, em Pedro Juan Caballero, fronteira com Mato Grosso do Sul. Criminosos dispararam mais de 30 vezes contra o carro do político paraguaio. O motorista e um guarda-costas morreram, mas Acevedo, mesmo atingido no braço e na cabeça, conseguiu escapar.
Dois brasileiros foram presos em seguida, no país vizinho. Os investigadores paraguaios afirmam que os suspeitos são integrantes do autodenominado PCC, embora especialistas questionem a hipótese de a facção criminosa paulista ter participado diretamente do atentado.
É razoável supor, no entanto, que narcotraficantes paraguaios e brasileiros tenham interesse na morte do senador. Ex-governador do departamento de Amambay, por onde passa parte significativa da maconha e da cocaína consumidas no Brasil, ele realizou trabalho conjunto com as forças de segurança e o Judiciário dos dois países no combate ao comércio ilegal de drogas.
É comum ouvir de Acevedo críticas às instituições de seu país. À Folha, o senador já disse que o Paraguai é um "paraíso" para narcotraficantes. "Aqui compram habeas corpus [...], juízes, policiais e fiscais."
Os problemas que afligem o país vizinho, no entanto, não podem ser vistos fora da lógica internacional de produção, refino e consumo de drogas.
Traficantes de países sul-americanos mantêm contatos e negócios. Parte da cocaína produzida na Bolívia, por exemplo, chega ao Brasil depois de passar pelo Paraguai, onde muitos criminosos brasileiros atuam.
A única resposta possível para a internacionalização do crime é a cooperação entre as polícias da região, o que já vem acontecendo. Mas sua ação seria muito menos eficaz sem a atuação conjunta da DEA (Drug Enforcement Administration), a agência antidrogas dos EUA. Os norte-americanos fazem acordos com as polícias locais, destinam verbas, realizam trabalho de inteligência e repassam informações para policiais sul-americanos.
Foi com o apoio da agência que a Polícia Federal brasileira conseguiu prender, há duas semanas, Nestor Ramon, acusado de ser um dos maiores traficantes da Colômbia.
Por outro lado, agentes da DEA foram expulsos da Bolívia em 2008. Desde então aumentaram a área de cultivo da coca -em 6%, segundo a ONU- e a apreensão de drogas do lado da fronteira brasileira com o país.
A PF e o Itamaraty, que anunciam a intenção de ajudar os bolivianos no combate aos entorpecentes, fizeram críticas nesta semana a parte da estratégia antidrogas dos EUA na região, durante conferência sobre o tema no Rio. Em artigo para esta Folha, o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, condenou o conceito de "guerra às drogas", que segundo ele termina por vitimar países e regiões inteiras.
É legítimo criticar excessos militaristas e exigir respeito à soberania dos países sul-americanos. É necessário articular as forças de segurança da região para vigiar melhor as fronteiras, barrar o tráfico e prender criminosos. Mas é imperativo tomar os cuidados necessários de modo a não alienar um apoio técnico e financeiro decisivo para que atentados como o realizado nesta semana no Paraguai não se tornem mais frequentes.


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