São Paulo, sábado, 29 de maio de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

"A bolha assassina"

BRASÍLIA - Como se fosse um filme B dos mais rastaqüeras, dirigido por Roger Corman ou Chuck Russell, a emenda da reeleição para os presidentes da Câmara e do Senado pode ser reapresentada em breve.
Essa bolha assassina casuísta tem chance de ressurreição porque muita gente no governo, de José Dirceu a Antonio Palocci, percebeu a besteira que foi desdenhar o problema. Pior, foram vítimas da síndrome do auto-engano ao pensar que "esse assunto o Congresso resolve sozinho".
É comum no mundo real, em São Paulo, abaixo do trópico de Capricórnio, as pessoas acharem a micropolítica um assunto enfadonho e de pouca utilidade prática. É verdade. Ocorre que essas disputas comezinhas é que determinam o ritmo com que o país avança ou retrocede. Basta verificar que o Congresso se encontra em estado catatônico.
Quando Lula retornar de seu convescote à China e ao México, será procurado. Alguns desconfiam que o presidente tenha deixado a emenda da reeleição ir para a cucuia porque deseja encontrar uma forma de se livrar de José Dirceu -que agora tem a opção de voltar à Câmara para disputar a presidência dessa Casa.
A operação é arriscada. Anabolizados por alguns eventuais sucessos nas eleições municipais de outubro, PFL e PSDB podem se aliar no Congresso no final deste ano. Juntos garantem Renan Calheiros (PMDB) para presidir o Senado. Em troca, esse binômio tucano-pefelê recebe o apoio dos peemedebistas para conquistar a presidência da Câmara.
É um cenário de pessimismo extremo para o Planalto. OK. Mas é comum ouvir esse tipo de avaliação até de petistas dos mais qualificados.
Resumo da ópera: Lula corre o risco de, nos dois últimos anos de seu mandato, ter de conviver com um Congresso comandado por PMDB-PFL-PSDB. Seria uma catástrofe política para a administração petista.
É por isso que o filme "a bolha assassina da emenda da reeleição" pode aparecer a qualquer momento na pauta da Câmara. Blockbuster.


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