|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GABRIELA WOLTHERS
O STF e o fantasma
RIO DE JANEIRO - A novela em torno da contribuição dos inativos é mais
uma prova cabal de como é difícil reformar o Estado. Faz pelo menos nove anos que o assunto é discutido no
Brasil. O governo FHC, que levou o
tema ao Congresso, terminou. O governo Lula, que o encampou e obteve
a sua aprovação, já está no seu segundo ano e a tal da contribuição
permanece sendo um fantasma.
Após anos de discussões e de rejeições no Congresso até ser finalmente
aprovada por emenda constitucional
-o que significa duas votações na
Câmara e mais duas no Senado-, a
contribuição está agora sendo contestada no Supremo Tribunal Federal. O julgamento, que começou nesta semana, foi adiado quando o governo perdia por 2 votos contra 1.
Já escrevi neste espaço que a contribuição dos inativos apenas impede a
perpetuação de uma discrepância
-que o funcionário público receba
mais ao se aposentar do que quando
trabalhava. O fato de o servidor ter
aposentadoria integral no Brasil gera
um desvirtuamento. Enquanto está
trabalhando, contribui com 11% para a Previdência. Mas pára de contribuir quando se aposenta. Ou seja, ele
embolsa 11% a mais quando deixa de
trabalhar. Um caso único no mundo.
Com a taxação, o inativo simplesmente continua a ganhar o mesmo
vencimento. Não há perda de renda.
O que há é a perda de um privilégio.
Apesar disso, tanto a relatora do
processo, ministra Ellen Gracie
Northfleet, como o ministro Carlos
Ayres Britto consideraram a cobrança inconstitucional. Voto a favor do
governo e do Congresso, por enquanto, só o do ministro Joaquim Barbosa.
Para os que alardeiam que a mudança fere direitos adquiridos, Barbosa fez uma boa analogia. Lembrou
que os senhores de escravos alegavam
direito adquirido para tentar barrar
a causa abolicionista. Se lei é feita para ser respeitada, também é verdade
que ela deve ser alterada quando não
atende à realidade do país.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: "A bolha assassina" Próximo Texto: Luciano Mendes de Almeida: Pela unidade dos cristãos Índice
|