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Bom senso na educação
A SOCIEDADE brasileira parece mais atenta aos debates sobre a educação. Tal
discussão tem progredido em
objetividade graças a estudos
empíricos e estatísticos -como a
contribuição do economista
Naércio Menezes Filho, da USP e
do Ibmec-SP, sobre o papel dos
pais no apoio ao aluno, noticiada
ontem por esta Folha.
São variados os fatores que intervêm no aprendizado, do número de horas diárias de ensino
à quantidade de livros em casa.
Em outros trabalhos, o estudioso já havia detectado a relativa
desimportância de computadores na escola, por exemplo. Decerto essa ferramenta tão útil ao
aprendizado não funciona desconectada de um sólido projeto
pedagógico nem pode fazer o papel do professor preparado.
Menezes usou dados do Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) para isolar o efeito
da participação paterna na execução dos deveres de casa. Como
parte da avaliação, o estudante
responde extenso questionário,
no qual consta pergunta sobre
freqüência da ajuda do pai ou da
mãe na hora de fazer a lição.
De modo surpreendente, a regressão efetuada pelo economista -descontados os efeitos de
outras variáveis sabidamente influentes, como renda familiar,
escolaridade dos pais etc.- indicou correlação inversa. Alunos
que responderam "sempre" ou
"quase sempre" apresentavam
médias menores. Mesmo não
sendo correto extrair da correlação um elo de causalidade, ela
ajuda a esclarecer como o controle dos pais afeta, de fato, o desempenho escolar dos filhos.
Na ausência de estudos mais
qualitativos, especialistas lançaram a hipótese de que o problema esteja não na quantidade,
mas na natureza da atenção conferida. Se os pais exigem demais,
conjetura-se, ou fazem o dever
pelo aluno, as notas pioram.
Nada, enfim, que o bom senso
já não recomendasse. A desorientação de todos é tamanha,
nessa matéria, que até o óbvio
está a exigir corroboração.
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