São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Bom senso na educação

A SOCIEDADE brasileira parece mais atenta aos debates sobre a educação. Tal discussão tem progredido em objetividade graças a estudos empíricos e estatísticos -como a contribuição do economista Naércio Menezes Filho, da USP e do Ibmec-SP, sobre o papel dos pais no apoio ao aluno, noticiada ontem por esta Folha.
São variados os fatores que intervêm no aprendizado, do número de horas diárias de ensino à quantidade de livros em casa. Em outros trabalhos, o estudioso já havia detectado a relativa desimportância de computadores na escola, por exemplo. Decerto essa ferramenta tão útil ao aprendizado não funciona desconectada de um sólido projeto pedagógico nem pode fazer o papel do professor preparado.
Menezes usou dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para isolar o efeito da participação paterna na execução dos deveres de casa. Como parte da avaliação, o estudante responde extenso questionário, no qual consta pergunta sobre freqüência da ajuda do pai ou da mãe na hora de fazer a lição.
De modo surpreendente, a regressão efetuada pelo economista -descontados os efeitos de outras variáveis sabidamente influentes, como renda familiar, escolaridade dos pais etc.- indicou correlação inversa. Alunos que responderam "sempre" ou "quase sempre" apresentavam médias menores. Mesmo não sendo correto extrair da correlação um elo de causalidade, ela ajuda a esclarecer como o controle dos pais afeta, de fato, o desempenho escolar dos filhos.
Na ausência de estudos mais qualitativos, especialistas lançaram a hipótese de que o problema esteja não na quantidade, mas na natureza da atenção conferida. Se os pais exigem demais, conjetura-se, ou fazem o dever pelo aluno, as notas pioram.
Nada, enfim, que o bom senso já não recomendasse. A desorientação de todos é tamanha, nessa matéria, que até o óbvio está a exigir corroboração.


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