São Paulo, sexta-feira, 29 de maio de 2009

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Editoriais

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Dinheiro para todos

O CHAMADO Sistema Petrobras, a teia de empresas das quais a estatal é acionista minoritária, doou R$ 8,5 milhões a políticos e partidos nas eleições de 2006 e 2008. Mais da metade dessas contribuições fluiu para o PT e seus candidatos. Pouco menos de um quarto da verba beneficiou o principal partido de oposição, o PSDB.
A informação, revelada ontem por reportagem desta Folha, ilustra uma das dificuldades, digamos, práticas a serem enfrentadas por qualquer CPI que tenha como alvo a Petrobras.
A estatal fatura num ano montante similar ao que a Receita Federal arrecada em tributos no período. Esse enorme poderio financeiro se espraia em negócios por todo o país, o que acaba influindo, de um modo ou de outro, no financiamento e no interesse de políticos de um amplo espectro partidário e regional.
No caso em tela, companhias cujo controle do capital é privado fizeram as doações -empresas do governo estão obviamente proibidas por lei de contribuir. A participação acionária da Petrobras naquelas companhias, contudo, configura uma clara situação em que o espírito da legislação, de erguer uma barreira entre negócios de estatais e fundos de campanhas, sai frustrado.
Os R$ 8,5 milhões representam apenas dois milésimos do total de doações eleitorais em 2006 e 2008. É a chamada ponta do iceberg. Só em contratos realizados por um sistema simplificado, que dispensa licitação, a Petrobras gastou R$ 47 bilhões nos últimos seis anos. Doações de campanha feitas por beneficiários de transações como essas são prática comum. Além disso, há o canal generoso dos patrocínios a ONGs "companheiras".
Passa da hora de esclarecer as relações turvas entre a maior empresa do Brasil e o financiamento da política. À sociedade cabe pressionar a CPI para que leve à frente essa tarefa -mesmo contra o interesse de alguns de seus integrantes.


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