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CLÓVIS ROSSI
O crime, o cinema, a política
SÃO PAULO - A mídia brasileira
tratou pouco da crise na Guatemala
desatada por um vídeo que mais parece coisa de cinema. O trecho principal do vídeo é assim: "Boa tarde,
me chamo Rodrigo Rosenberg
Manzano; se você está vendo ou ouvindo esta mensagem é porque fui
assassinado".
Foi mesmo, mas esse respeitado
advogado deixou registrado no vídeo o nome dos assassinos: o presidente da República, Álvaro Colom,
sua mulher e um de seus ministros,
tudo, segundo Rosenberg, para encobrir irregularidades em um banco público e ligações com o crime
organizado.
Colom, como fazem quase todos
os governantes, disse que o vídeo
era parte de uma conspiração para
desestabilizar seu governo.
Seja qual for a verdade, parece
evidente que o crime organizado
estendeu seus tentáculos à política
e ao aparelho de Estado, como já o
havia feito antes na Colômbia e,
agora, no México.
Anteontem, em uma operação
inédita do Exército e da Polícia Federal, foram presos, só no Estado
mexicano de Michoacán, 11 prefeitos e mais 17 altos funcionários, inclusive o diretor da academia de polícia local, todos envolvidos com o
narcotráfico, que aliás tomou conta
do Estado: controla não só o tráfico
mas também caça-níqueis, prostituição e pirataria.
O que enlaça os casos da Guatemala e do México é que a entrada do
Exército na guerra ao narcotráfico
há dois anos está levando os cartéis
a deslocarem operações para a
América Central -o que mostra
que essa polêmica alternativa de repente funciona e, por isso, tem que
ser analisada, também no Brasil,
sem um rechaço apriorístico.
Afinal, seria supina ingenuidade
imaginar que o crime organizado
por estas bandas desprezaria a possibilidade de invadir a política, ainda que o faça de maneira menos cinematográfica do que no México,
na Guatemala ou na Colômbia.
crossi@uol.com.br
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