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MELCHIADES FILHO
Em defesa das CPIs
BRASÍLIA - O bombardeio que
procura desqualificar as CPIs acaba
por ajudar um governo que desdenha do Legislativo e, entre outros
vícios, peca pela soberba -confia
que será situação para sempre.
As CPIs são um importante fórum de debate, talvez o único de
que hoje dispõem o Congresso e a
oposição para se contrapor ao arsenal propagandístico do Executivo.
Fossem as comissões tão inúteis,
despropositadas ou mero palanque
para políticos decadentes -versões
que aquela mesma máquina de propaganda difunde-, não seriam feitas tantas reuniões de emergência
com o intuito de barrá-las nem manobras tão acintosas para garantir
integrantes de confiança. Elas murchariam sozinhas, não?
Erra, também, quem afirma que
as CPIs sempre acabam em pizza.
Mesmo as mais contestadas ou folclóricas têm dado contribuições.
Instalada por causa da crise nervosa de Ronaldo Fenômeno na Copa de 1998 (!!!), a CPI da Nike acuou
os cartolas a tal ponto que galvanizou o fim do passe, a criação de um
estatuto de direitos do torcedor e a
adoção de uma fórmula justa (e permanente) para o principal campeonato nacional. Incipiente? Só para
quem não vive o futebol.
Sem a CPI do Apagão, a Anac estaria ainda mais à mercê do duopólio aéreo. O recente e tão aplaudido
"rapa" de apaniguados políticos na
Infraero não teria sido possível.
A CPI dos Grampos? Revelou o
mercado paralelo de escutas, expôs
a falta de rigor técnico e de controle
institucional de trabalhos da PF e
colocou o Judiciário na berlinda.
Quanto à Petrobras, a CPI prestará um enorme favor, inclusive ao
governo federal, caso jogue luz sobre os grandes contratos e o modelo
de negócios do petróleo -o Planalto está entre os que se queixam da
falta de transparência da estatal.
E, ainda que sucumba ao sabido
despreparo (ou à inapetência) dos
senadores, a comissão já diminuiu a
chance de uso eleitoral da empresa
no ano que vem. Não é pouco.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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