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RUY CASTRO
A força maior
RIO DE JANEIRO - Uma juíza americana proibiu a atriz Lindsay Lohan de beber álcool. Lindsay está
cumprindo uma condicional por dirigir embriagada. A juíza decidiu
que ela será chamada de surpresa a
fazer exames e terá de usar uma
pulseira eletrônica capaz de acusar
álcool em seu sangue.
Sei pouco sobre Lindsay Lohan.
Tem 24 anos, é bonita, talentosa e
gay -aprendi no Google. Nunca vi
seus filmes e só há pouco ouvi falar
dela, e sempre associada a substâncias. Vive sendo fotografada, na rua
ou em boates, em situações desprimorosas. Enfim, como disse, sei
pouco a seu respeito. Mas sei o suficiente para dizer que a juíza está errada e que não entende patavina do problema.
Se fosse possível fazer alguém
parar de beber por ordem judicial,
bastaria um decreto-lei para acabar
com o problema do alcoolismo. A
juíza supõe que Lindsay seja uma
sem-vergonha que, em vez de "moderar" e beber pouco, como uma
boa moça, manda todas para dentro porque gosta de provocar tumulto. Ou seja, a juíza supõe que
pessoas com alcoolismo agudo poderiam beber sob controle se tivessem, talvez, "força de vontade".
Pena que na vida real não seja assim. Se os alcoólatras conseguissem controlar a bebida não seriam
alcoólatras. Não é o bebedor que
modera racionalmente o seu consumo -a natureza de seu organismo é que o faz ingerir menos ou
mais álcool. Aliás, os fabricantes de
bebida sabem disso. Daí aquela advertência ao fim de cada comercial
de cerveja exibido na televisão,
"Beba com moderação", ser de um
acachapante cinismo.
É possível que, em seus momentos de depressão causada pela intoxicação, Lindsay pense em "moderar" ou mesmo em abster-se. Mas,
no estágio de dependência em que
já está, apesar de ter só 24 anos, não
é mais a razão que a comanda. Há
uma força maior, orgânica, que a
leva inexoravelmente à garrafa.
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