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CESAR MAIA
Esperança e medo
Em campanhas eleitorais, é
muito comum a disjuntiva esperança x medo. Na maioria
das vezes, os candidatos competitivos atribuem uns aos outros riscos quanto ao futuro,
de forma a aportar insegurança nos eleitores.
Num artigo no jornal "El
Tiempo", de Bogotá, o jornalista León Valencia, analisando a eleição presidencial, tenta explicar a performance do
candidato verde, Antanas
Mockus, usando essa disjuntiva. Cita John del Cecato, estrategista do Partido Democrata,
que fez essa aposta vitoriosa
na eleição de Obama. Seu
princípio é: "A esperança vende mais que o medo".
No caso da Colômbia, era e é
uma aposta difícil, na medida
do sucesso do presidente Uribe na guerra contra os narcoguerrilheiros das Farc.
Paradoxal é o caso brasileiro. Por anos, durante as seguidas tentativas desde 1989, Lula respondia com seu jingle a
seus adversários que lançavam sobre ele uma nuvem de
insegurança e medo. Não faltou o apoio de artistas: "Lula-lá, sem medo de ser feliz";
"Lula-lá, cresce a esperança".
Curioso paradoxo. O que
parecia um preconceito em relação ao candidato operário
apoiado pelas esquerdas era,
na verdade, uma velha fórmula aplicada por candidatos do
governo contra a oposição.
Collor não foi exceção,
apoiado que era pela direita
no governo, com o presidente
Sarney isolado em seu próprio
partido. Já na eleição de 2006,
esses sinais começaram a ficar
claros, no segundo turno,
quando o tema privatização,
foi lançado pela campanha de
Lula para gerar insegurança
em relação a Alckmin.
Na atual campanha, aquela
disjuntiva volta. Quem está no
governo se dirige à oposição
com o velho e surrado discurso do medo. Medo de que o
programa Bolsa Família seja
descontinuado, de que novas
privatizações poderão vir etc.
A mesma lógica lançada
contra Lula pelos governos é
agora lançada pelo governo
de Lula contra a oposição: emplacar no eleitorado a sensação de medo quanto ao futuro.
Antes, e agora também, a
oposição procura reagir da
mesma forma: dizendo que
nada disso é verdade e que tais
ou quais vetores terão continuidade. Quanto mais fortes
as instituições democráticas,
mais desmoralizada é essa
apelação ao medo que fazem
os governos reiteradamente.
Esperança é a metáfora usada pelas oposições -aqui e
alhures- para tratar de mudança, com o sujeito oculto
pelo verbo. E o eleitor pode
perceber assim. Os governos
-seus candidatos e agora candidata- traduzem o discurso
da oposição por mudança, em
insegurança para o eleitor.
Numa situação de crise, é
fácil desmontar a bandeira do
medo. Numa situação de normalidade, não é tão fácil.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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