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TENDÊNCIAS/DEBATES
O presidente Lula deve vetar o reajuste de 7,7%
aos aposentados aprovado pelo Congresso?
NÃO
Percentual é justo e não quebra Previdência
VANESSA GRAZZIOTIN
O reajuste de 7,7% aos aposentados e pensionistas que ganham acima de um salário mínimo é uma
forma de fazer justiça aos trabalhadores que construíram este país. Do
ponto de vista fiscal, trata-se de
uma medida viável.
O sistema previdenciário possui
um regime de repartição, cujo princípio é o de solidariedade entre as
gerações. É isso que deve garantir
aos inativos uma parte dos ganhos
reais dos que estão na ativa.
Quanto ao acréscimo que aprovamos no Congresso, resultará apenas no aumento de 0,1% nas despesas da União neste ano.
Essas são as principais razões pelas quais defendo que o presidente
Lula não vete o que aprovamos. Os
aposentados vêm recebendo durante muitos anos reajustes que
pouco superam o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
No sistema de repartição, os que
estão na ativa concedem renda aos
agora inativos. É esse princípio que
torna justo dar a eles uma parte dos
ganhos reais alcançados pelos trabalhadores ativos.
Também é um simples ato de
presunção dizer que haverá uma
quebradeira na Previdência e nas
contas do governo por causa do
reajuste. Sobre o valor de 6,14%
proposto pelo Executivo, a Câmara
acrescentou mais 1,57%, o que
equivale a apenas R$ 1,1 bilhão ao
ano. É este o valor pelo qual o Congresso é responsável.
Ou seja, muito inferior aos R$
13,8 bilhões anuais que resultam do
aumento de 0,75% na taxa Selic decretada recentemente pelo Banco
Central do país.
O acréscimo desse montante de
R$ 1,1 bilhão considera apenas o lado da despesa previdenciária, mas,
se considerarmos o impacto dessa
despesa na economia e o seu retorno em contribuição previdenciária,
veremos que ela é ainda menor.
Explico: a cada real acrescido à
despesa previdenciária, 30 centavos retornam em tributos, sendo
mais de 20 centavos para a União, o
que faz com que o custo líquido do
acréscimo real aprovado se reduza,
para a União, a R$ 0,88 bilhão.
Esse tipo de cálculo de custo líquido também é adotado para as renúncias fiscais que beneficiam a
produção e as empresas e, na verdade, é o único relevante.
Mesmo tomando o impacto desse acréscimo de despesa isoladamente para a Previdência, ele também é sustentável. Graças ao ritmo
de crescimento logrado pelo governo Lula, de 2007 a 2010, exceto
2009, a receita da Previdência vem
crescendo mais do que a despesa.
E, se retirarmos a renúncia previdenciária, de responsabilidade do
Tesouro, o sistema urbano é superavitário também desde 2007, chegando a R$ 13 bilhões só em 2009.
Mas nem por isso os parlamentares da base aliada poderiam agir
com irresponsabilidade. Por essa
razão, rejeitamos a emenda patrocinada por PSDB, DEM e PPS, que,
na oposição, tentaram aprovar um
reajuste ainda maior; esse sim, irresponsável e oportunista.
Portanto, não há razão para o
alarme que fazem muitos economistas sobre o suposto desequilíbrio das contas públicas.
Todos eles nunca parecem preocupados com o equilíbrio fiscal
quando se trata de elevar a despesa
pública para pagar juros.
Mas, quando se trata de gastos
que podem melhorar a vida dos trabalhadores, logo clamam contra
a "gastança".
Não podemos aceitar, nós ou os
aposentados, esse dois pesos e
duas medidas. Agora, a bola está
com Lula. Acredito que o presidente fará o melhor possível pelos aposentados e pensionistas deste país.
VANESSA GRAZZIOTIN, deputada federal pelo PC do
B -AM, é líder do partido na Câmara.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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