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TENDÊNCIAS/DEBATES
O presidente Lula deve vetar o reajuste de 7,7%
aos aposentados aprovado pelo Congresso?
SIM
O Congresso no país das maravilhas
ROBERTO LUIS TROSTER
A proposta de um reajuste da
Previdência de 7,72% é um desatino que não pode ser acatado pelo
presidente. Obviamente que quanto maiores forem os proventos dos
aposentados, melhor.
É aceito por todos que eles merecem velhice digna. A questão é que
o momento atual exige responsabilidade. Aceitar a emenda é ser conivente com populismo anacrônico.
O acordo entre a equipe econômica e as centrais sindicais foi de
uma elevação de 6,14%, portanto,
acima da inflação, com ganho real e
inserido em Orçamento que engloba a saúde, a segurança, a educação, enfim, o país e seu futuro.
A emenda do Legislativo, elevando o percentual, está fora de contexto e tumultua a gestão fiscal.
A atuação dos representantes
lembra o conto de Alice, em que a
percepção do mundo é distorcida e
contrária ao bom senso.
Relatos de mordomias, funcionários fantasmas e atos administrativos secretos mostram que a visão
da realidade no Congresso é outra,
criando falsos paradigmas, como
este: se o aumento não for dado, os
aposentados ficarão "na mão".
Usando esse tipo de raciocínio
mágico, deveria dar-se um aumento aos beneficiários do Bolsa Família, pois ganham menos que os aposentados, aos enfermeiros que os
amparam e aos policiais que os protegem, que também não podem ficar "na mão". A lista é extensa, mas
quem não pode ficar "na mão"mesmo é o futuro do país.
A irresponsabilidade pode custar
caro. Os discursos defendendo a
emenda ajudam a entender a falta
de sintonia do Legislativo com a
realidade. Não há mágica fora do
país das maravilhas, e talvez do
Congresso, que permita distribuir
sem produzir. O que está acontecendo com a Grécia ilustra o ponto.
Governos anteriores dilapidaram
seu futuro com gastos e regalias
sem preocupação. A consequência
é uma estagnação nos próximos
anos, com um arrocho salarial,
uma redução de benefícios e uma
crise que poderiam ter sido evitados com um pouco de racionalidade e atenção com a produção.
O Brasil vive uma situação ambígua. Por um lado, as projeções de
crescimento do PIB são de 50% para a próxima década. Todavia, por
outro, o momento é de apreensão,
com pressões inflacionárias internas, deficit crescente em contas externas e um cenário internacional
de volatilidade, em grande parte
causado pela crise grega.
É um contexto que está exigindo
o aumento da taxa de juros e cortes
no Orçamento, há incertezas no horizonte. Portanto, não é hora para o
aumento adicional proposto. Se as
condições mudarem em algum momento, num processo orçamentário abrangente, por que não?
A hora atual é de um otimismo
cauteloso. As barreiras existentes
podem ser superadas, e há condições objetivas para crescer; para
tanto, deve-se aumentar a capacidade de produção do país, reconhecido pelo tamanho de seu mercado
interno, ambiente empresarial dinâmico e sofisticação financeira.
Mas também é notório que o país
tem uma legislação trabalhista obsoleta, uma tributação asfixiante e
uma burocracia anacrônica.
O Congresso Nacional pode ajudar a fazer acontecer, e muito. Uma
modernização do ambiente institucional contribuiria para elevar a
produtividade e atrair investimentos. Isso aumentaria o produto por
habitante e haveria mais recursos
para que os menos favorecidos não
ficassem "na mão".
Se o Congresso Nacional fizer essa mágica e não custasse tão caro,
em vez de um aumento de 7,72%,
poderia propor um de 17,72% ou até
de 27,72% nos próximos anos, e seria aprovado por todos. Todavia, insiste num populismo anacrônico.
ROBERTO LUIS TROSTER, 59, doutor em economia
pela USP, é sócio da Integral Trust. Foi economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos
Bancos), da ABBC e do Banco Itamarati.
E-mail: robertotroster@uol.com.br.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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