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CARLOS HEITOR CONY
Tradição do circo
RIO DE JANEIRO - Foi estimulante para a nação a cerimônia de
posse do novo ministro da Defesa.
O astral da pátria andava por baixo
com a sucessão de problemas e tragédias. Em aparição anterior, Lula
declarou pateticamente que estava
com o coração sangrando, desobedecendo ao conselho de sua ministra do Turismo, que sugeria relaxamento e gozo a todos nós.
O alto escalão do governo decidiu
acabar com as agruras aéreas e, embora o presidente já tivesse marcado dia e hora para resolver o problema, o tempo foi passando e tudo
piorando até o desastre com o Airbus da TAM e seus quase 200 mortos. Alguma coisa precisava ser feita
para distender a fossa nacional, e
nada melhor do que a cúpula do governo reunida para dar posse ao novo ministro e agradecer os serviços
do antigo.
Todos estavam risonhos, Lula
provou mais uma vez ser o brasileiro comum que entre outras coisas
tem medo de avião e citou a mulher
do novo titular da Defesa, que o ajudou na substituição do Waldir Pires. Como nas rubricas dos discursos parlamentares, houve risos entre parênteses (risos).
No fundo, uma técnica vinda dos
circos, que são mais antigos do que
os desastres de avião. Quando os
trapezistas se esborracham no chão
e a platéia se levanta horrorizada, o
dono do circo, de casaca, cartola e
botas, brandindo o chicote do poder
entra no picadeiro e ordena que a
banda toque uma polca para animar o respeitável público (público
de circo é sempre respeitável). Entram em cena também os cinco ou
seis palhaços e anões da companhia, dando cambalhotas e chutando-se mutuamente.
Nada melhor para distender os
ânimos, esquecer os trapezistas esborrachados no chão. Uma tradição
circense que em boa hora o governo
adotou para relaxamento geral.
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