São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009

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Boa oportunidade

Queda da inadimplência num quadro de retomada do crescimento e inflação baixa dará chance para reduzir os "spreads"

PESQUISA do Banco Central divulgada ontem revelou que os juros bancários para pessoas físicas, nas linhas de crédito pessoal e para aquisição de veículos, atingiram em junho o menor nível desde 1994, quando o levantamento começou a ser realizado.
De acordo com o documento do BC, os juros do crédito pessoal ficaram em 45,6% ao ano, com uma queda de 14,8 pontos percentuais na comparação com dezembro do ano passado. No mesmo intervalo, apurou-se declínio de 9,6 pontos nas taxas para financiamento de veículos -que chegaram a 26,9% ao ano.
São sinais positivos, num momento em que a economia brasileira começa a conviver com uma inédita diminuição do patamar dos juros básicos. Desde o início do atual ciclo de redução, no mês de janeiro, a autoridade monetária cortou cinco pontos percentuais da taxa Selic.
O problema é que os níveis dos juros praticados pelo sistema financeiro permanecem elevados. Os bancos, embora tenham realizado cortes, foram seletivos e não seguiram o ritmo do BC. Diversos fatores podem explicar -embora nem sempre justificar- esse comportamento.
De início, é inevitável constatar que o sistema bancário ainda carece de mecanismos eficazes de estímulo à concorrência. O governo tenta compensar esse quadro pressionando as instituições públicas para que reduzam suas taxas. É uma política acertada por seu caráter anticíclico e pelos efeitos que pode surtir -mas há limites de responsabilidade em sua aplicação.
Afora isso, os bancos têm certa razão ao apontar custos e o risco de inadimplência como fatores que dificultam um movimento mais acentuado de baixa.
Nesse quadro, é auspiciosa a avaliação apresentada por Roberto Setubal em entrevista à Folha, no domingo. Na opinião do presidente-executivo do Itaú Unibanco, a inadimplência estaria chegando ao pico, e sua esperada queda levaria os juros bancários a cair "muito mais".
Segundo Setubal, o componente mais importante do "spread" neste momento é exatamente o nível recorde de perdas dos bancos causado pela crise. O "spread" é a diferença entre os juros que as instituições pagam para captar dinheiro e a taxa cobrada nos empréstimos.
Na pesquisa mensal do BC divulgada ontem observa-se que o índice de inadimplência de pessoas físicas ficou estável e o de empresas teve ligeira alta. São dados referentes a empréstimos vencidos há mais de três meses. Naqueles com atraso entre 15 e 90 dias, a taxa das pessoas físicas não se alterou e a de empresas caiu de 2,7% para 2,3%.
É, sem dúvida, um bom prenúncio ao qual se somam indicações de que o momento mais grave da crise econômica já passou. Estudo do próprio Itaú Unibanco, em consonância com análise do Bradesco, aponta que a recessão, caracterizada por dois semestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), já foi tecnicamente superada.
A perspectiva de retomada do crescimento, com inflação baixa e queda na inadimplência, ofereceria uma oportunidade valiosa para sanar as anomalias que têm marcado a cobrança de juros pelo sistema financeiro no Brasil.


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