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Boa oportunidade
Queda da inadimplência num quadro de retomada do crescimento e inflação baixa dará chance para reduzir os "spreads"
PESQUISA do Banco Central
divulgada ontem revelou
que os juros bancários
para pessoas físicas, nas
linhas de crédito pessoal e para
aquisição de veículos, atingiram
em junho o menor nível desde
1994, quando o levantamento
começou a ser realizado.
De acordo com o documento
do BC, os juros do crédito pessoal ficaram em 45,6% ao ano,
com uma queda de 14,8 pontos
percentuais na comparação com
dezembro do ano passado. No
mesmo intervalo, apurou-se declínio de 9,6 pontos nas taxas para financiamento de veículos
-que chegaram a 26,9% ao ano.
São sinais positivos, num momento em que a economia brasileira começa a conviver com uma
inédita diminuição do patamar
dos juros básicos. Desde o início
do atual ciclo de redução, no mês
de janeiro, a autoridade monetária cortou cinco pontos percentuais da taxa Selic.
O problema é que os níveis dos
juros praticados pelo sistema financeiro permanecem elevados.
Os bancos, embora tenham realizado cortes, foram seletivos e
não seguiram o ritmo do BC.
Diversos fatores podem explicar
-embora nem sempre justificar- esse comportamento.
De início, é inevitável constatar que o sistema bancário ainda
carece de mecanismos eficazes
de estímulo à concorrência. O
governo tenta compensar esse
quadro pressionando as instituições públicas para que reduzam
suas taxas. É uma política acertada por seu caráter anticíclico e
pelos efeitos que pode surtir
-mas há limites de responsabilidade em sua aplicação.
Afora isso, os bancos têm certa
razão ao apontar custos e o risco
de inadimplência como fatores
que dificultam um movimento
mais acentuado de baixa.
Nesse quadro, é auspiciosa a
avaliação apresentada por Roberto Setubal em entrevista à
Folha, no domingo. Na opinião
do presidente-executivo do Itaú
Unibanco, a inadimplência estaria chegando ao pico, e sua esperada queda levaria os juros bancários a cair "muito mais".
Segundo Setubal, o componente mais importante do "spread"
neste momento é exatamente o
nível recorde de perdas dos bancos causado pela crise. O
"spread" é a diferença entre os
juros que as instituições pagam
para captar dinheiro e a taxa cobrada nos empréstimos.
Na pesquisa mensal do BC divulgada ontem observa-se que o
índice de inadimplência de pessoas físicas ficou estável e o de
empresas teve ligeira alta. São
dados referentes a empréstimos
vencidos há mais de três meses.
Naqueles com atraso entre 15 e
90 dias, a taxa das pessoas físicas
não se alterou e a de empresas
caiu de 2,7% para 2,3%.
É, sem dúvida, um bom prenúncio ao qual se somam indicações de que o momento mais grave da crise econômica já passou.
Estudo do próprio Itaú Unibanco, em consonância com análise
do Bradesco, aponta que a recessão, caracterizada por dois semestres seguidos de queda do
Produto Interno Bruto (PIB), já
foi tecnicamente superada.
A perspectiva de retomada do
crescimento, com inflação baixa
e queda na inadimplência, ofereceria uma oportunidade valiosa
para sanar as anomalias que têm
marcado a cobrança de juros pelo sistema financeiro no Brasil.
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